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O efeito Unity: uma análise de mercado de sistemas operacion

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O efeito Unity: uma análise de mercado de sistemas operacion

Mensagempor Luciano Fernandes » Qua, 29 de Agosto 2012, 22:06


Uma particularidade interessante do usuário Linux é a sua curiosidade sobre estatísticas de uso de sua distribuição favorita, e do próprio pinguim, no mercado de sistemas operacionais. Enquanto o “ano do Linux no desktop” não chega, os usuários do sistema do pinguim seguem observando os números na esperança de alcançar uma fatia mínima de mercado que implique no aumento de interesse, reconhecimento e de respeito em relação ao Linux por parte dos fabricantes de hardware e software.

Ou seja, que finalmente forneçam suporte ou pelo menos uma documentação decente de seus produtos para que a comunidade possa fazer a sua parte. Na prática, isto poderia levar à eliminação das últimas limitações que ainda restam nesse sistema operacional.


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Nessa busca por números, uma série de informações, desinformações, teorias e conspirações estão disponíveis internet a fora. O Linux só teria mesmo aqueles menos de 2% do mercado de desktop? Ou seria isto obra de um maligno concorrente, que gastaria fortunas subornando empresas de estatística para que continuassem mantendo esse número baixo? Viveríamos numa realidade artificial, numa Matrix?

No mercado interno os debates também são diversos. O Ubuntu ainda seria a distribuição mais utilizada ou teria o Mint assumido mesmo a primeira posição? A suposta queda do Ubuntu seria por causa do Unity, o divisor de águas da Canonical? E como responder a todas essas perguntas?

Em busca de uma fonte de dados confiável

Uma fonte popularmente citada é o site Distrowatch. Não é para menos que as pessoas confiem nele, afinal de contas um site com esse nome, com a proposta de ser o “vigilante das distribuições”, só poderia ter informações precisas sobre o Linux, certo? Errado. Infelizmente não é bem assim.

O Distrowatch tem seu ranking de distribuições baseado no número de visitas diárias que a página de cada distribuição dentro do próprio site recebe. Assim, entre outros detalhes técnicos, o fato de que a “estatística” pode ser facilmente manipulada pelos visitantes acaba por invalidá-la para qualquer uso sério.



Por outro lado, os números que apresentaremos a seguir são baseados em uma amostragem aleatória, abrangente e neutra o suficiente para serem levados em consideração. Os relatórios de análise de tráfego da Wikimedia provêm de dados de acesso aos serviços Wiki (Wikipédia, Wikcionário, Wikinews, etc) no mundo todo.

Toda vez que um usuário acessa um serviço Wiki, os dados básicos de seu computador ficam registrados no servidores, como navegador, sistema operacional, etc. Esses dados vão se acumulando e depois são organizados em relatórios mensais, disponíveis à curiosidade de qualquer um no site Wikimedia Stats.

Antes de mais nada, alguns detalhes sobre os dados utilizados:

  • Os números gerais do Linux no Wikimedia Stats incluem o Android. Como neste artigo estamos analisando somente as distribuições para GNU/Linux, o valores do robozinho verde foram subtraídos do valor total do Linux;

  • Os dados utilizados foram obtidos pelo filtro “Average daily requests”.
Começaremos com uma visão da participação do Linux no mercado de sistemas operacionais (que inclui Windows e Mac OS), e depois detalharemos aos poucos os dados dentro do mercado interno.

O Linux no mercado de sistemas operacionais



Esta é uma visão mais abrangente, da participação do Linux no mercado de sistemas operacionais. Aqui vemos uma tendência otimista: nos últimos dois anos o pinguim tem subido lenta, porém consistentemente, chegando em junho deste ano a 1,93% do mercado de sistemas operacionais, excluídos os sistemas móveis.

Vemos também que o Ubuntu, sozinho, é responsável por quase a metade dos usuários Linux, chegando, em junho/2012, a 0,84% do mercado de sistemas operacionais. Quanto à queda na utilização do Ubuntu entre abril e outubro de 2011, o detalhamento da participação do mesmo pode nos dar mais informações, como veremos a seguir.

A Participação do Ubuntu dentro do mercado Linux

Nos dados do Wikimedia, o Linux aparece como a soma de 20 elementos. Destes, 19 são as distribuições mais bem colocadas em termos de quantidade de acesso aos serviços Wiki, e o vigésimo elemento é a categoria “Outras”, formada pelas distribuições com menor número de acessos ou que simplesmente não foram identificadas pelo sistema.

Entretanto, esse nível de detalhamento (com tantas distros) só passou a estar disponível a partir de outubro/2011, o que acaba limitando um pouco a nossa análise. Dito isto, vamos aos gráficos:



Esta é a participação do Ubuntu dentro do mercado interno do Linux, ou seja, o percentual de pinguins que usa a distribuição do Tio Mark. O gráfico acima, visto isoladamente, contém algumas curiosidades.

Nele vemos que o Ubuntu dominava o mercado interno do Linux, com participação que chegou a quase 50% no auge da versão 10.10. Mas com o lançamento do 11.04, com o Unity por padrão, muitos usuários teriam migrado para outras distribuições. Se esta fosse a interpretação correta, o Ubuntu teria perdido participação de 17 pontos percentuais, caindo do patamar de quase 43% para abaixo dos 26% no mercado Linux.

Entretanto, a análise do gráfico abaixo ajuda a explicar o que realmente aconteceu:



Neste gráfico, como já dissemos, a categoria “Outras” representa todas as distribuições não especificamente listadas no Wikimedia Stats, inclusive as distribuições Linux não identificadas por aquele sistema. Ou seja, o Ubuntu e as outras 18 distribuições mais bem colocadas em termos de acesso aos serviços Wiki não estão incluídas ali.

Observe-se que o gráfico das “Outras” distribuições é inversamente proporcional ao gráfico do Ubuntu. Quando o sistema operacional laranja começou a se recuperar, depois do lançamento do Oneiric Ocelot em outubro/2011, a categoria “Outras” diminuiu proporcionalmente. Isso quer dizer que essa categoria absorveu a maior parte dos usuários que teriam o abandonado, já que as demais grandes distribuições não tiveram um aumento tão significativo, como pode ser observado no gráfico detalhado das outras distribuições, mais abaixo.

Por que isto acontece? Que distribuições misteriosas seriam essas que teriam recebido um número tão significativo de usuários durante esse período?

É que os sistemas na internet dependem de uma série de informações para determinar que sistema operacional o usuário que está acessando determinada página está utilizando, baseando-se na configuração padrão do sistema. Assim, por exemplo, a utilização de um ambiente de trabalho diferente do padrão, como o Gnome 3, LXDE, XFCE e, possivelmente, o próprio Gnome 2 (fallback do Ubuntu 11.04), faria com que um sistema Ubuntu caísse na categoria genérica de “Outras”.

Então o que muito provavelmente aconteceu, é que a grande maioria dos usuários que deixaram de ser identificados como usuários do Ubuntu não estavam usando outras distribuições, mas outro ambiente de trabalho.

O gráfico abaixo confirma que as outras 18 distribuições foram beneficiadas com a migração de usuários que deixaram o Ubuntu, mas somadas, não chegaram a crescer mais que 5% no mercado Linux (considerando que em maio/2012 elas teriam voltado ao patamar anterior ao lançamento do Unity):



Assim, se o Ubuntu caiu 17 pontos percentuais e apenas 5 foram para essas 18 distribuições, os outros 12 pontos foram parar na categoria “Outras”, simplesmente por causa de usuários que não estavam usando o Unity, e assim não foram devidamente identificados pelos servidores da Wikipédia e demais serviços Wiki.

Observe-se ainda, que não há uma tendência real de queda das distribuições como pode sugerir o gráfico. Como já foi dito, o Wikimedia Stats não detalhava os dados das distribuições desta maneira antes de outubro/2011. Por isto, interpretamos essa aparente queda como uma volta das distribuições ao patamar anterior ao lançamento do Unity.

Os usuários do Ubuntu que tinham trocado de distribuição por causa da versão 11.04, começaram a retornar com o 11.10, processo que se consolidou com a versão 12.04. Como se pode notar, a partir de abril/2012 as distribuições se estabilizam.

Vejamos agora em maior detalhe a participação das 8 maiores distribuições:



De uma maneira geral, observa-se que a posição de cada distribuição não se alterou muito nos últimos meses: temos o Fedora em segundo lugar, com o SUSE logo atrás, em terceiro; depois vem o segundo pelotão, liderado pelo Debian em quarto lugar, seguido do Mint em quinto lugar.

Confirmando as tendências

Quando se trata de análise de mercado, utilizar uma fonte de dados isoladamente pode levar a erros de interpretação. Quanto mais fontes confirmando a leitura dos dados, melhor.

Não há muitos lugares onde nós, mortais, possamos obter dados de uso de sistemas operacionais com livre acesso. Entretanto, pudemos constatar no site Stat Owl as mesmas tendências do mercado interno do Linux, embora com números diferentes. Todas as altas e baixas em decorrência do lançamento do Unity se repetem nos dados desse site, vindo a confirmar a leitura dos dados do Wikimedia Stats.

Considerações finais

Em resumo, podemos chegar a algumas conclusões interessantes:


    1. O mítico limite de 2% parece ser real, o que quer dizer que não vivemos numa Matrix (pílula vermelha!). Por outro lado, a boa notícia é que o Linux vem crescendo consistentemente nos últimos dois anos, o que pode significar que muito em breve irá ultrapassar a barreira dos 2%;

    2. O Ubuntu nunca teve a sua posição de liderança ameaçada por nenhuma outra distribuição. A escala de sua base de usuários é simplesmente outra, em relação às demais distribuições;

    3. A tal “tendência de queda” do Ubuntu que muito se propagou pela internet no final do ano passado, não passa de uma bobagem divulgada por profissionais irresponsáveis e que não têm nenhum respeito pelos seus leitores, uma vez que se utilizaram de dados que não têm nenhum compromisso com a realidade. O que houve foi uma recusa de boa parte dos usuários em utilizar o Unity na versão 11.04, que em sua maioria não trocaram de distribuição, mas apenas de ambiente de trabalho.

    4. A partir da versão 11.10, o Ubuntu com o Unity voltou a ser utilizado pela maior parte dos usuários que inicialmente tinham optado por outro ambiente de trabalho e outras distribuições. As razões disso seriam o fim do Gnome 2, o amadurecimento do Unity e uma maior predisposição dos usuários, passada a (má) impressão inicial, em dar uma chance ao mesmo.

    5. Todas as grandes distribuições se beneficiaram com a migração de usuários do Ubuntu quando o Unity foi lançado, mas não foram capazes de mantê-los.
De qualquer forma, ainda que o Unity permaneça odiado por uma ruidosa minoria (as viúvas do Gnome 2), pode-se considerar que a Canonical obteve sucesso nos seus planos. Romper parcialmente com o projeto Gnome para ter seu próprio ambiente de trabalho e sua própria identidade em termos de interface, foi uma jogada arriscada, mas vitoriosa.



Poderia se argumentar, com alguma razão, que o lançamento do Unity como padrão no 11.04 foi um movimento precipitado da Canonical. Entretanto, fazer com que os usuários fossem se acostumando com ele desde tão cedo resultou no fato de que, na versão 12.04, a situação já estivesse estabilizada, amenizando antecipadamente a reação contrária que normalmente acompanha toda e qualquer novidade radical.

Espero ter ajudado a esclarecer algumas dúvidas e acabar com alguns mitos. E você? O que achou dos dados da Wikimedia? Surpreendem de alguma forma ou apenas confirmam as suas suspeitas? Deixe seu comentário abaixo! (:


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