Fonte: http://advivo.com.br/blog/edson-furlan/ ... e-arquivos
Autor: Edson Furlan
Em poucos anos deixarão de existir como conhecemos os atuais provedores de hospedagem de arquivos (tais como 4shared, Mediafire, Rapidshare e Mega). A associação de aumento de capacidade de armazenamento dos dispositivos eletrônicos, de conexões à internet mais velozes e de arquivos torrent tornarão os usuários os principais provedores de hospedagem e distribuição de conteúdos.
As poucas dezenas de provedores privados que hoje existem no mundo se tornarão bilhões, bilhões de usuários-provedores pessoais. A maior parte do conteúdo compartilhado será não apenas livre, mas, sobretudo, produzido pelas pessoas conectadas à rede.
Protocolo BitTorrent
O arquivo torrent, na verdade protocolo BitTorrent, foi criado para distribuir conteúdos de forma legal. Ele utiliza o sistema ponto-a-ponto (peer-to-peer, ou p2p), sistema já popular desde a década de 1990.
No sistema ponto-a-ponto cada computador conectado à rede funciona tanto como o fornecedor do conteúdo (enviando os arquivos), quanto como usuário (baixando outros). Um arquivo disponibilizado é dividido e pode ser baixado de vários computadores diferentes simultaneamente, cada qual fornecendo um “pedaço” do arquivo - o que permite o compartilhamento sem a necessidade de um provedor central de hospedagem. O computador de quem realiza a baixa, no final do processo, junta todas essas partes e disponibiliza na máquina do usuário o arquivo pronto (inteiro).
Por conta do compartilhamento de arquivos via torrent sem a observação de direitos autorais, esses arquivos passaram a ter, indevidamente, sua imagem ligada a algo errado ou ilegal. Além de falso, este tipo de pensamento tende a ofuscar o potencial por trás do torrent.
Compartilhamento é o espírito da rede
Google+, Facebook, Youtube, Twitter, blogs etc. incluem em suas páginas a opção de compartilhamento de conteúdos. Seja enviando o endereço da página ou do próprio conteúdo, o “espírito” da internet é o compartilhamento, de preferência com acesso irrestrito e gratuito ao material.
Na década de 1990, época em que a internet começou a se popularizar, era muito difícil realizar o compartilhamento de conteúdos. Não havia os atuais blogs - era preciso conhecer a linguagem HTML e pagar a hospedagem do sítio.
Ainda que tenham surgido serviços gratuitos que facilitavam a produção de sítios, como o “falecido” GeoCities, o espaço disponibilizado nos servidores era muito reduzido – geralmente algo em torno de 15 megabytes (MB). Além disso, a velocidade de conexão era uma piada de mau gosto quando comparado ao que se tem hoje disponível - as conexões não passavam de 56 Kb/s, o comum era 28 Kb/s.
Para se ter uma ideia, hoje, para realizar a baixa de um arquivo de fotografias de 10 MB, em uma conexão de 1 mega (megabit por segundo ou Mb/s) o usuário esperará no mínimo uns 80 segundos; em uma de 4 Mb/s, 20 segundos; de 10 Mb/s, 8 segundos; de 100 Mb/s, apenas e tão somente 0,8 segundo. Antigamente, nas “ultrarrápidas” conexões de 28 kb/s, aguardava-se no mínimo uns intermináveis 47 minutos!
Blog, espaço de armazenamento e velocidade
Quando na década dos anos 2000 começou a chegar aos lares a conexão banda larga, os blogs vieram à luz, facilitando a criação de páginas de internet, e surgiram os atuais provedores de hospedagem de arquivos, disponibilizando milhares de megabytes (alguns gigabytes, GB) de espaço para armazenamento (adeus 15 megabytes). Foi a festa: muito espaço para armazenar arquivos na rede, facilidade de criação de conteúdo e baixa/envio de arquivos em velocidades mais rápidas.
Embora já existissem há algum tempo as redes ponto-a-ponto, o sucesso alcançado pelos provedores de hospedagem de arquivos se deu principalmente por causa da velocidade alcançada na baixa e no envio de arquivos.
Nas redes ponto-a-ponto, caso do torrent, havia não só o limite de velocidade da conexão do usuário, mas também o limite de velocidade do outro usuário que disponibiliza o arquivo. De nada adiantava se possuir uma conexão de 10 Mb/s se o outro disponibilizava o arquivo a menos de 1 MB/s.
Com o advento dos provedores de hospedagem, que trabalhavam com conexões de alta velocidade, o usuário baixava e enviava arquivos com a velocidade máxima que sua conexão permitia.
Quando na década dos anos 2010 alguns provedores de hospedagem tiveram suas atividades limitadas ou encerradas (vide o caso Megaupload), ressurgiu o interesse pelas redes ponto-a-ponto, com um detalhe importante: os usuários já contavam com conexões ainda mais rápidas – o que tornou o envio e baixa de arquivos torrent uma opção viável.
Seu uso vem aumentando nos últimos anos e recentemente alguns sítios de torrent passaram a figurar, dentro da categoria de compartilhamento de arquivos, entre os mais visitados na internet (The Pirate Bay supera a 4Shared e Mediafire e já é o número 1, disponível em: http://migre.me/e0vRJ).
Em alguns anos, quando forem comuns velocidades próximas ou mesmo superiores a 100 Mb/s (vide: Banda larga de 300 Mbps por R$ 70? Só em Hong Kong, disponível em: http://migre.me/e0Iuu), será mínimo o tempo necessário para a baixa e o envio de arquivos via torrent.
Produção e distribuição de conteúdo
Aliado a isso se tem de um lado o impressionante aumento da capacidade de armazenamento dos computadores e dispositivos eletrônicos (notebooks, tablets, smartphones, televisores etc.), e a crescente facilidade de produção de conteúdo.
Em poucos anos os computadores pessoais passaram dos milhares de megabytes de capacidade de armazenamento (estavam na casa das dezenas ou centenas de gigabytes, GB), para os impressionantes milhões de megabytes (dando agora os passos iniciais nos terabytes, TB do futuro).
A criação, publicação e disponibilização de textos, imagens, áudios e vídeos na rede se tornou muito, mas muito mais fácil. Literalmente: coisa de criança. Uma série de programas gratuitos e equipamentos eletrônicos cada vez mais otimizados para a internet trazem uma série de facilidades para a criação e publicação de conteúdos na rede.
Com capacidade de armazenamento nunca antes vista, internet cada vez mais rápida e facilidades na criação e publicação de conteúdos, o elemento final dessa equação será o compartilhamento via torrent.
Dando poder ao usuário
O grande potencial dos torrents é a facilidade que propicia para o compartilhamento de qualquer tipo de material produzido pelo usuário: textos, imagens, áudio, vídeos, ou seja, tudo aquilo que for digitalizado. E mais, ele, o usuário, se torna o servidor de hospedagem e distribuição não apenas de seus, mas também dos arquivos que baixou de outros usuários – ocorrendo a distribuição descentralizada do conteúdo.
Deixa de haver o problema de o provedor sair do ar, a empresa de hospedagem perder os arquivos, encerrar as atividades ou qualquer outro tipo de impedimento.
Nos próximos anos o conteúdo será perpétuo na internet, por meio dos arquivos torrent se formará e se terá acesso a um imenso banco de dados mundial, de livre acesso e distribuição, constituído por todos os computadores interconectados.
O conhecimento será universalizado – o que de modo indireto constituirá uma forma de distribuição também de renda por meio do acesso aos materiais gratuitos (um livro disponibilizado gratuitamente pelo autor faz com que o usuário economize o dinheiro que seria gasto com a compra caso o material não fosse gratuito).
Ocorrerá a distribuição de poder, pois o conhecimento deixará de ficar concentrado em determinadas empresas de produção de conteúdo e de hospedagem. Todos os próprios usuários passarão a produzir, hospedar e distribuir conteúdos. Tornar-se-ão o início, o meio e o fim do processo.
Compartilhamento, por meio do qual se estabelecem interações e se criam relações entre os usuários, é e será ainda mais no futuro o espírito da rede. Os torrents serão num futuro próximo uma das ferramentas fundamentais no fortalecimento desse espírito.