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A obsolescência programada na informática

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A obsolescência programada na informática

Mensagempor Luciano Fernandes » Sáb, 3 de Março 2012, 21:20

Boa tarde! Desejo que todas(os) estejam bem :!: :OK:


Introdução



Marcos é um funcionário de um escritório em Barcelona, na Espanha. Ele vai imprimir um texto digitado no Microsoft Word em sua impressora Epson. No meio da impressão, porém, o dispositivo para de funcionar e exibe uma mensagem de erro informando que uma peça da impressora falhou e que ele deverá leva-la a uma assistência técnica. Indo em três lojas diferentes, ele descobre que o conserto sairá por cerca de 110 ou 120 euros. Os próprios vendedores, então, sugerem a Marcos que ele desista de consertar sua impressora e adquira uma nova, que custa a partir de 39 euros. Esse é o começo do documentário “The Light Bulb Conspiracy”, dirigido pela cineasta Cosima Dannoritzer, que denuncia uma prática antiética, imoral e comum na indústria desde o início do século XX e que pode ser verificada de forma acentuada na Informática: a obsolescência programada: dispositivos que já saem da linha de produção programados para morrer.


Conforme cita o documentário, a prática da obsolescência programada iniciou-se formalmente na década de 1920, quando os principais fabricantes de lâmpadas se reuniram e formaram um cartel, acordando que a duração máxima dos dispositivos não deveria ultrapassar 1000 horas úteis. No final do século XIX, as lâmpadas criadas por Thomas Edson duravam cerca de 1500 horas e, pouco antes do acordo secreto ser firmado, elas costumavam passar de 2500. O filme exibe, até, uma lâmpada de alerta que está em uma sede do corpo de bombeiros nos EUA que permanece ligada ininterruptamente por mais de 100 anos! A prática foi formalmente adotada após a crise de 1929 quando os industriais descobriram que criar um produto que estragasse rápido movimentaria mais a economia do que criar um produto de qualidade que durasse várias décadas.

Basicamente existem três formas de se criar um produto programado para morrer: construindo-o com componentes de qualidade inferior, induzindo o consumidor a substituí-lo ou criando limitações artificiais.

Vários produtos eletrônicos – ou não – saem da linha de montagem com um prazo de validade informalmente pré-determinado. Isso é conseguido ao construí-lo com componentes de qualidade inferior que tendem a se deteriorar ou a causar mau funcionamento após um determinado tempo de utilização. O maior exemplo que temos em nosso país são os desktops e notebooks de alguns fabricantes que, durante seu período de garantia – geralmente de um ano – funcionam perfeitamente bem, mas uma vez findo este prazo, começam a apresentar defeitos dos mais variados tipos. Tais defeitos podem ser ocasionados pelo esgotamento da bateria CMOS ou pelo superaquecimento de um componente colocado em determinado local. Como sempre, muitas vezes o conserto não vale a pena, assim como não há provas formais de que tais práticas aconteçam de fato.

A segunda forma de obsolescência programada começou a ganhar força na década de 1950 e consiste em induzir o consumidor a substituir algum aparelho por outro mais moderno antes do necessário. O exemplo mais gritante são os aparelhos de televisão: vários consumidores estão simplesmente trocando suas televisões de tubo 4:3, que estão com “saúde total” e sem defeito algum, por outras widescreen, feitas de LED ou de LCD com capacidade de receber sinais em alta definição. Tudo isso, é claro, de forma totalmente desnecessária, pois o encerramento das transmissões analógicas ocorrerá apenas em 2016, um número mínimo de cidades recebe o sinal digital e a programação da maioria das emissoras de TV atualmente não é em alta definição. Na informática, também percebemos isso: gamers substituem placas de vídeo com 1 ou 2 anos de uso em perfeitas condições por outras para ficarem atualizados; quando vamos para o mundo mobile então, nem se fala: o HTC Nexus One, primeiro smartphone da Google com o sistema Android, lançado há apenas dois anos, já está totalmente ultrapassado e foi abandonado pela gigante, que não irá atualizá-lo para a versão 4. O mesmo pode ser dito dos iPhones 1 a 3 ou daqueles palmtops que eram sonho de consumo no final dos anos 90 e que, apesar de ainda poderem funcionar hoje, devem estar, na melhor das hipóteses, morrendo abandonados dentro de uma gaveta.


Mais presente no ramo dos softwares, os produtos podem se tornar obsoletos graças a limitações artificiais incluídas por seus próprios fabricantes. Vem à tona o exemplo do Microsoft Office: de 1995 até 2006, os programas da suíte tinham basicamente a mesma interface e o mesmo formato de arquivo. Isso fez com que muitas empresas – grandes e pequenas – permanecessem até esses dias usando a versão 97 da suíte. Em 2007, porém, a Microsoft resolveu mudar esse cenário e lançou a nova versão de seus programas de escritório. A primeira polêmica foi a interface totalmente diferente daquela a qual todos já sabiam usar, o que fez muitos usuários recusarem-se a fazer o upgrade. Para resolver esse empasse, veio a segunda polêmica: um novo formato de arquivo, baseado em XML, totalmente incompatível com as versões anteriores (exceto com o Office 2003 SP3) que era selecionado automaticamente na hora de salvar o documento. Essa limitação artificialmente criada pela Microsoft forçou seus clientes a lentamente migrarem para a nova versão da suíte e, quando todos já estavam se acostumando com ela, três anos depois a empresa lança uma nova versão, a 2010, que é praticamente a mesma versão 2007 só com uma interface ligeiramente melhorada, dois ou três novos recursos que quase ninguém sabe que existem e centenas de correções que também podem ser instaladas através dos service packs.

Vemos, portanto, que a obsolescência programada está presente e é marcante no âmbito informático através de várias práticas, muitas vezes imperceptíveis, da indústria.

Engana-se, porém, quem pensa que essa prática é monopólio das empresas de software proprietário: as distribuições de Linux são, possivelmente, as maiores apoiadoras da prática da obsolescência programada. Basta ver que, no início da década passada, se você instalasse uma distribuição que viesse com um ambiente gráfico X e uma nova versão desse ambiente fosse lançada, era possível atualizá-lo todo com, no máximo, alguns comandos. Hoje, porém, isso é praticamente impossível na maioria das distros mainstream que lançam uma nova versão a cada seis meses: o ambiente gráfico está tão enredado com o resto do sistema que tentar atualizá-lo para uma versão mais nova certamente seria sinônimo de dor de cabeça e de noites em claro. O melhor e mais fácil é, obviamente, atualizar o sistema inteiro para a nova versão, o que não é um grande problema para aqueles que têm uma boa conexão à Internet (É claro que existem projetos comunitários como o OpenSUSE Evergreen que tendem a estender o período de suporte das versões legadas, mas é a velha história do “por sua conta e risco”).

Finalmente, vemos que, independente de nossa vontade, somos levados por uma mão invisível a movimentar nossa economia, seja substituindo produtos que estragaram prematuramente ou simplesmente porque queremos algo mais moderno. Somos fantoches e a indústria da informática está aí para provar isso: nossos computadores atuais têm memória e velocidade de processamento restritos a grandes servidores de duas décadas atrás, mas os programas e sistemas operacionais que utilizamos ficaram cada vez mais pesados de tal forma que o tempo médio que demoramos para realizar uma tarefa comum na última versão de um software em um micro atual é próximo daquele que levaríamos para fazer a mesma coisa em uma versão de 15 ou 20 anos atrás do mesmo programa em um computador daquela época. Precisamos, porém, sermos consumidores conscientes e não nos deixar levar apenas pelo que as propagandas dizem. A propósito: Marcos encontrou uma pessoa na Internet que lhe forneceu auxílio para “consertar” sua impressora e continua usando-a.

por André Machado <andreferreiramachado em gmail.com>



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Re: A obsolescência programada na informática

Mensagempor Luis Cardoso » Sáb, 3 de Março 2012, 23:32

Isto é bem verdade, quem tiver uma impressora HP Deskjet da série 600 (como eu tive) saberá que é bem verdade que após umas determinadas impressões, os tinteiros começavam a deslocar-se de maneira esquisita e a bater na lateral da caixa! Tive duas - 610 e 640 - e ambas tiveram o mesmo fim! A última até parou de imprimir e apresentar os sintomas a meio de uma impressão (daí eu indicar que era após umas determinadas impressões). Ou seja, o controlador da HP andava a contar as páginas impressas, e quando esta atingia um valor, ela apresentava problemas (que mais se parecia com um indicador de erro de coordenação do elevador que segurava os tinteiros em descanso e do motor que permitia o deslize horizontal...).
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Re: A obsolescência programada na informática

Mensagempor Exploit » Dom, 4 de Março 2012, 15:31

Isto é o cerne do capitalismo impulsivo actual...
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Re: A obsolescência programada na informática

Mensagempor Bitetti » Seg, 5 de Março 2012, 12:51

O pior é ver "consumidor" vendo essas coisas, e mesmo sem ter conhecimento desses termos mais acadêmicos, aceita a coisa!

Também tem o outro lado disso tudo, por exemplo a minha camera fotográfica comprei usada! Não é difícil comprar uma de estudios que estão dando upgrade no equipamento.
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Re: A obsolescência programada na informática

Mensagempor Claudio Novais » Seg, 5 de Março 2012, 13:54

Normalmente tudo o que é caro já não acontece isso. E a definição de caro é ser bem acima da média do normal que o utilizador comum costuma comprar. No caso do exemplo do Bitetti, provavelmente é uma bem acima do normal e por isso mesmo creio que dura muito mais tempo.

Agora todos os materiais normais, comum e normalmente baratos têm realmente essa situação tida como frequente. Os portáteis e computadores normalmente estão nesse grupo; tudo o que é material das "lojas dos chineses" acontece isso também (aliás nestes casos eu até sou da opinião que a maioria dos produtos deles são descartáveis depois de 3 ou 4 vezes de utilização); carros; máquinas de lavar louça e roupa etc etc.

Se falarmos de material bom em que o utilizador já pagou bem por ele a coisa nem sempre se aplica, nomeadamente câmaras fotográficas profissionais, máquinas de lavar louça industriais (dos restaurantes), secadores de cabelo profissionais que encontramos nos cabeleireiros, etc etc etc.
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Re: A obsolescência programada na informática

Mensagempor Luis Cardoso » Seg, 5 de Março 2012, 19:51

Claudio Novais » 05 Mar 2012, 13:54 escreveu:Normalmente tudo o que é caro já não acontece isso. E a definição de caro é ser bem acima da média do normal que o utilizador comum costuma comprar. No caso do exemplo do Bitetti, provavelmente é uma bem acima do normal e por isso mesmo creio que dura muito mais tempo.

Agora todos os materiais normais, comum e normalmente baratos têm realmente essa situação tida como frequente. Os portáteis e computadores normalmente estão nesse grupo; tudo o que é material das "lojas dos chineses" acontece isso também (aliás nestes casos eu até sou da opinião que a maioria dos produtos deles são descartáveis depois de 3 ou 4 vezes de utilização); carros; máquinas de lavar louça e roupa etc etc.

Se falarmos de material bom em que o utilizador já pagou bem por ele a coisa nem sempre se aplica, nomeadamente câmaras fotográficas profissionais, máquinas de lavar louça industriais (dos restaurantes), secadores de cabelo profissionais que encontramos nos cabeleireiros, etc etc etc.

Não é bem assim, se o fabricante diz que a garantia do produto é de 2 anos, então quer dizer que o fabricante garante um funcionamento normal durante dois anos. O que acontece na realidade, os utilizadores podem usar o equipamento uma vez por entre outra, o que prolonga o seu tempo de funcionamento! Por outro lado, há aqueles que têm um uso acima do normal e é nesses casos que o cliente retorna o equipamento à casa durante o período de garantia!
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Re: A obsolescência programada na informática

Mensagempor Ron Alon » Seg, 5 de Março 2012, 20:01

Vi isso na prática com o eOS 0.1, que o WebKit não recebeu uma atualização IMPORTANTE para arquivos gif animados só porque era do Ubuntu 10.10 (isso quando a 10.04 é uma versão LTS). No próprio Ubuntu, na maioria dos casos, só as duas últimas versões antes da atual que recebem atualizações importantes. E a gente aceita isso, claro. Eles possuem dinheiro e a gente não. Eles que fabricam, a gente não.
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Re: A obsolescência programada na informática

Mensagempor Claudio Novais » Seg, 5 de Março 2012, 20:05

Luis Cardoso » Seg Mar 05, 2012 7:51 pm escreveu:
Claudio Novais » 05 Mar 2012, 13:54 escreveu:Normalmente tudo o que é caro já não acontece isso. E a definição de caro é ser bem acima da média do normal que o utilizador comum costuma comprar. No caso do exemplo do Bitetti, provavelmente é uma bem acima do normal e por isso mesmo creio que dura muito mais tempo.

Agora todos os materiais normais, comum e normalmente baratos têm realmente essa situação tida como frequente. Os portáteis e computadores normalmente estão nesse grupo; tudo o que é material das "lojas dos chineses" acontece isso também (aliás nestes casos eu até sou da opinião que a maioria dos produtos deles são descartáveis depois de 3 ou 4 vezes de utilização); carros; máquinas de lavar louça e roupa etc etc.

Se falarmos de material bom em que o utilizador já pagou bem por ele a coisa nem sempre se aplica, nomeadamente câmaras fotográficas profissionais, máquinas de lavar louça industriais (dos restaurantes), secadores de cabelo profissionais que encontramos nos cabeleireiros, etc etc etc.

Não é bem assim, se o fabricante diz que a garantia do produto é de 2 anos, então quer dizer que o fabricante garante um funcionamento normal durante dois anos. O que acontece na realidade, os utilizadores podem usar o equipamento uma vez por entre outra, o que prolonga o seu tempo de funcionamento! Por outro lado, há aqueles que têm um uso acima do normal e é nesses casos que o cliente retorna o equipamento à casa durante o período de garantia!

Luís, são vários os produtos que já vi, não só meus, que ao fim dos dois anos de garantia começam a dar problemas! Telemoveis, carros, televisões, computadores, aparelhos domésticos, etc etc. E então as impressoras, essas são mesmo a verdadeira "lâmpada", falada no texto acima, do século XXI!
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Re: A obsolescência programada na informática

Mensagempor Luis Cardoso » Seg, 5 de Março 2012, 20:25

Claudio Novais » 05 Mar 2012, 20:05 escreveu:Luís, são vários os produtos que já vi, não só meus, que ao fim dos dois anos de garantia começam a dar problemas! Telemoveis, carros, televisões, computadores, aparelhos domésticos, etc etc. E então as impressoras, essas são mesmo a verdadeira "lâmpada", falada no texto acima, do século XXI!

Telemóveis?!? Eu não consigo aguentá-los por mais de 6 meses... o facto de trabalhar com muitos campos electromagnéticos, faz com que estes durem pouco tempo! Já tive um pequeno problema num telemóvel, em que ficou com o ecrã invertido, devido a uma actividade laboratorial com motores e geradores (a partir daí, telemóvel sempre desligado antes de entrar no laboratório).

Quanto a computadores, um desktop teve de levar uma motherboard nova (depois de 3 anos de uso) porque apanhou com uns picos de corrente! O portátil mais antigo, apenas funciona ligado à tomada, pois não estou para gastar €150 por uma bateria e está a precisar de uma pilha de relógio nova! Este portátil já tem mais de 6 anos e ainda anda aqui para as curvas (tirando o problema de se esquecer que dia é xD ). Na altura (em 2005), custou-me €699 e é de uma marca pouco conhecida GERICOM! Não foi caro, e tendo em conta que havia pessoal a gastar mais de €1000 e duraram muito menos tempo, precisando de assistência técnica durante o caminho!!! :roll:
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Re: A obsolescência programada na informática

Mensagempor Claudio Novais » Seg, 5 de Março 2012, 20:32

Há certos computadores que realmente saem bons, por exemplo o meu pai tem um com talvez uma década e ainda funciona bem!

No entanto, salvo as exceções e os exageros a verdade é que as marcas tentam produzir algo que dure os dois anos de garantia e depois falhe o mais rápido possível!
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