A Internet está, desde domingo, de luto por um dos seus ícones. Morreu, aos 77 anos, Eduard Khill, ou Mr Trololo, conhecido por protagonizar um vídeo, gravado nos anos 70, e que o transportou de novo à ribalta em 2010.
A Internet tem destas coisas e consegue mesmo transformar a vida de algumas pessoas. As "memes", fenómenos de popularidade viral, já são um muito conhecido sub-produto da cultura cibernética e têm produzido inúmeras histórias. Em Portugal, temos o caso do Hélio Imaginário ou Paulo Futre, que viram as suas vidas mudar do dia para a noite pelo poder da partilha de um vídeo no Youtube. Mas estes não são casos únicos.
Existem diversos tipos de fenómenos virais. A nível internacional, e com o humor a desempenhar um papel importante na Net, dentro do fenómeno "meme" surgiu um outro, chamado de rickrolling. Já "antigo" (tendo em conta que o fator novidade é ainda mais efémero na rede), a ideia consistia em direcionar quem nos lê, partindo de uma falsa premissa, para um vídeo de Rick Astley, "Never Gonna Give You Up", em jeito de gozo. Quem acreditava na história contada, clicava no link e via o vídeo era considerado "rickrolled", ou seja, tinha caído na brincadeira.
Depois de Astley, a comunidade online descobriu, no início de 2010, um outro vídeo, que depressa se tornou igualmente um caso de sucesso. No mesmo, era possível ver um cantor russo dos anos 70 a cantar uma música sem letra discernível. Este facto acabaria por conduzir à alcunha que o cantor viria a receber das gentes da Internet: Mr. Trololo, devido a parte da canção, que virou um sucesso.
O vídeo foi visto milhões de vezes, quer como "partida", quer de livre vontade por parte dos ouvintes. A loucura foi tanta à volta do vídeo que diversos programas de comédia norte-americanos, como o Colbert Report, o Jimmy Kimmel Live ou o Family Guy, pegaram no mesmo e satirizaram a falta de conteúdo aparente da letra.
Mas, como tudo, há uma explicação para este fenómeno. A expressão dada por Khill no vídeo da música sem letra surgiu exatamente porque, em tempos, a canção contava uma história, mas a mesma acabaria por ser censurada pelo governo soviético. Ainda nos tempos da URSS, a canção falava de cowboys e pradarias, numa evocação do "lifestyle" norte-americano, coisa que não se coadunava com o poder vigente na terra de Khill, como explicou o próprio. Como tal, e também em jeito de "brincadeira", em vez de censurar parte da letra ou de a mudar, os autores decidiram transformar a canção ao estilo "vokaliz", ou seja, retirar qualquer palavra discernível da mesma.
Eduard Khill ficou a saber da sua nova fama por causa do neto, que apanhou a cantarolar a música um dia, depois de chegar da escola. Chegou mesmo a lançar um vídeo online, onde agradecia o carinho dos novos fãs (que chegaram mesmo a pedir uma tour mundial ao cantor e a criar um website inteiramente dedicado ao vídeo) e pedia que, em conjunto, inventassem uma nova letra para a música. Morreu vítima de problemas cardiacos, na Rússia, este domingo. Antes, porém, recebeu diversos prémios, tanto nos anos 60 e 70, como mais recentemente e voltou a gozar do estatuto de celebridade no seu país.