Nem todo projeto de código aberto é mesmo aberto, diz fundadora da Mozilla
Na entrevista concedida à Folha, a executiva Mitchell Baker, fundadora e presidente da Fundação Mozilla, empresa ícone do software livre, questiona a natureza de projetos que dizem ter código aberto, fala da relação da instituição com projetos semelhantes, da competição entre eles e os motivos que levam desenvolvedores a escolher uma companhia sem fins lucrativos para trabalhar.
em fevereiro, em Barcelona
Uma de nossas filosofias é que a competição é uma coisa boa: dá poder de escolha aos consumidores e incentiva os participantes [do mercado] a fazer o seu melhor. Somos também muito focados na interoperabilidade entre diferentes produtos ou entre diferentes versões de produtos. O lado ruim da competição é que cada empresa constrói sua própria coluna vertical. Em um cenário desses, se você escolher um único aspecto da coluna, um dispositivo, por exemplo, tudo relacionado a ela já foi decidido por você. E você não pode mudar isso. Se existem muitas empresas com esse modelo, o sistema fica travado. Esse tipo de competição fragmentária é muito difícil.
PROJETOS "ABERTOS"
Código aberto pode significar coisas diferentes. Na definição mais limitada, técnica e legalista, significa que o software está disponível sob uma licença que foi aprovada como de código aberto. Quase sempre, "aberto" e "código aberto" significam algo maior, que inclui o método de produção -do qual a Mozilla é uma forte defensora, e o Android, não. Nosso método de desenvolvimento é totalmente aberto. Isso não acontece apenas no sentido de você poder ir à internet e ler o que acontece. Você pode participar das discussões, desenvolver lideranças e criar o trabalho que acabamos compartilhando. Ficamos gratos por isso, porque diferentes perspectivas são necessárias para a criação de uma plataforma forte. Então, quando olhamos para outros projetos de código aberto, vemos só licenciamento. Nossa relação com esses projetos é...[pausa longa] de respeito sobre o fato de que, em algum momento, o código deles pode estar disponível sob uma licença aberta.
ATRAIR MÃO-DE-OBRA
A filosofia de design é importante. O produto que você está construindo é importante. Muitos desenvolvedores são atraídos por um produto e o seu impacto -querem trabalhar em um projeto que as pessoas estão usando para valer. Vimos bastante isso no Firefox. É importante também o que você quer dizer com "aberto". Licenciamento aberto é uma coisa, e desenvolvimento aberto é outra. Se o que mais empolga o mercado é a parte fechada do que você faz, isso pode ser desencorajador [para quem cria]. Desenvolvedores se interessam pela maneira que um projeto funciona. Alguns gostam de estruturas organizacionais. Outros preferem liberdade total. Algumas coisas que fazemos no Firefox têm partes altamente estruturadas. Onde podemos oferecer espontaneidade? Nas extensões do Firefox há uma forma de agradar quem quer trabalhar separadamente e fazendo seus próprios horários.
O que mais atrai? Liderança, a tecnologia central dos seus projetos e as oportunidades de negócios. No nosso caso, o fato de não termos fins lucrativos atrai. Você pode ter código aberto e ser financiado por investidores, que esperam retorno. As pessoas que nos apoiam esperam retorno, mas não monetário. Elas querem mais abertura, interoperabilidade e segurança para os usuários.
MUNDO MÓVEL
A estrutura da indústria móvel é problemática para diversos participantes. Existem pessoas de todos os lados tentando inovar, criando a terceira ou quartas camadas da experiência. Você tem Apple, Google... Além disso, existem novos participantes, alguns mais fechados em termos de inter-operabilidade. O Ubuntu utiliza o kernel do Linux, mas tem uma tecnologia e metodologia de aplicativos específica, então é uma mistura. A indústria está sob pressão enorme, e os desenvolvedores estão lutando contra duas plataformas que têm muito código específico. Em tempos difíceis, as mudanças estão na periferia da indústria.