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Obsolescência programada e lançamentos excessivos...

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Obsolescência programada e lançamentos excessivos...

Mensagempor Luciano Fernandes » Ter, 18 de Setembro 2012, 20:33

[...] por que ninguém está fazendo nada?






Mal acabamos de terminar de babar pelo iPhone 5, e já nos deparamos com mais uma notícia bombástica: A Samsung anuncia que irá lançar o Galaxy S4 no começo de 2013. Como assim? O Galaxy S3 acabou de sair, ainda está sendo considerado um dos melhores smartphones até o momento, e já estamos falando em sua obsolescência?

Sim, obsolescência, pois embora ele ainda tenha um processamento maravilhoso e tela linda, ele não será mais o top, não será citado em mais nenhum comparativo. Será apenas o modelo anterior do novíssimo, poderosíssimo e espetacular S4. Quem tem um S3 logo começa a procurar datas de lançamento e o preço do próximo queridinho, e seu atual aparelho perde a graça quase que instantaneamente.

Essa “corrida do ouro” está tão exagerada que as pessoas, antes mesmo do lançamento do iPhone 5, já pensavam em iPhone 6! Eu publico vídeos de resenhas na internet, e muitas pessoas vêm me perguntar qual o melhor aparelho para esse ou aquele uso. Algumas delas me perguntam se devem comprar o iPhone 5 ou esperar pelo 6. Isso é quase desesperador de se ver. O consumo desenfreado está chegando a limites extremos, em que não se pensa mais nem no modelo top que foi acabado de lançar, e sim no próximo a ele, que está ainda na prancheta.

E o mercado de rumores começa a funcionar a toda (se é que um dia para), esmiuçando fotos na internet, publicadas por chineses com supostas novas embalagens de um aparelho nas mãos. Logo estão adivinhando novas features, produzindo listas de “o que o iPhone novo precisa ter para ser ideal”. E logo são tantas listas, e tanta expectativa, que na hora do lançamento todos se decepcionam com a falta de features que os publicadores de rumor falaram. “Cadê o NFC? Cadê o iPad mini? Por que não tem leitura dos olhos para destravar a tela?”.

Assim, todos voltam seus olhares para o nem tão próximo lançamento de uma empresa, apesar de comparecerem às para as lojas, adquirindo o mais novo aparelho por “não importa o preço”. Dois disputam o páreo de melhor smartphone, enquanto outros são simplesmente descartados da lista do sucesso. De repente, se você não tem um desses dois não é nada, é lixo. Trabalho com jovens entre 14 a 17 anos, e vejo todos os dias, em conversas descontraídas, um esfregando seu novo smartphone na cara dos outros, enquanto os que não têm nada parecido ficam resignados ou participam da discussão, prometendo em breve adquirir um muito melhor do que os dos outros. Essa é a próxima geração que, já estimulada pela atual velocidade de consumo e de lançamentos, não estará nunca satisfeita com o produto que acaba de comprar e ter em mãos.

Isso nos leva a outro ponto, já conhecido de gerações anteriores, termo cunhado há quase um século: obsolescência programada. Esse termo já era muito citado na década de 70, embora tenha sido citado pela primeira vez em 1920, pelo presidente da GM na época, Alfred Sloan. Projetos de produtos custam caro, e buscam sempre a inovação. Um produto precisa ser rapidamente lançado para que possa recuperar seu investimento em pesquisa. Porém, apesar de processadores de quatro núcleos, tela super brilhante e sistema atualizado, esses produtos são feitos de forma a te deixarem na mão muito em breve.

E quem liga para isso? Quem liga que seu aparelho quebre, uma vez que você já estava de olho no próximo? Talvez essa seja até mesmo a desculpa necessária para você ir lá comprar logo seu novo objeto de desejo. Em mais um dos casos que presenciei entre os jovens com que trabalho, um deles “bricou” seu próprio smartphone afim de convencer a mãe de que precisava de um novo, maior e mais caro. Como resultado, a mãe não quis comprar e agora ele tenta recuperar o que já tem. É um tanto quanto assustador isso.

Consigo perceber tudo isso claramente no meu dia a dia. Quantos não me procuram pedindo ajuda, pois seus aparelhos quebraram do nada? E quando procuram as assistências, essas parecem ser feitas de modo que o consumidor fique tão irritado com o atendimento e o retorno, que acabe comprando um produto novo. Recentemente comprei um micro-ondas da Brastemp, marca reconhecida por sua qualidade (a famosa frase “Ele não é assim uma Brastemp”). Em menos de uma semana, o micro-ondas começou a dar problemas. Visitas de técnicos, gravações de vídeo para mostrar os problemas. O laudo final da empresa era de que o problema estava na fiação elétrica da minha casa, e que não poderiam fazer nada.

Paguei o preço do stress e do nervosismo e, em uma batalha quase épica, consegui que trocassem o produto, que eu rapidamente vendi, sem nem ao menos tirar da caixa. Comprei então um Electrolux, geladeira que já tenho e que gosto da marca porque, apesar de ter dado problemas, me atendeu com qualidade (vejam só, estamos escolhendo não pela qualidade, e sim por quem atende melhor). Pois bem, nem um mês depois e esse também já começa a fazer uns barulhos estranhos. E toca para o pé no SAC novamente.

Se na década de 70 as pessoas já reclamavam da tão temida obsolescência programada, e agora que os lançamentos são quase semanais? Por quê uma empresa construiria um produto que dure mais do que dois anos se precisa que o consumidor compre algo novo bem antes disso? Consumidores de tecnologia reclamam quando um aparelho não vem com bateria removível. Pra quê, me pergunto eu? Antes mesmo de a bateria apresentar sinais de cansaço, o aparelho já vai ter sido substituído.

Para os interessados no assunto, sugiro assistirem o documentário The Light Bulb Conspiracy, cujo trailer pode ser visto abaixo (o YouTube tem uma versão legendada completa aqui):


Termino aqui com um trecho da música “A maior banda dos últimos tempos da última semana” (o título da música em si já sintetiza o assunto), dos Titãs: “Não importa contradição / O que importa é televisão / Dizem que não há nada que você não se acostume / Cala a boca e aumenta o volume então”.


Caso tenha gostado do post, por favor, prestigie a fonte para este e outros assuntos afins :!: :obrigado: o :ubuntued: agradece sua preferência, volte sempre! ;)


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Re: Obsolescência programada e lançamentos excessivos...

Mensagempor Claudio Novais » Ter, 18 de Setembro 2012, 20:53

Este é o real problema do capitalismo. Precisa de faturar o máximo que puder. Não se pode ficar pelo faturar lucro, tem-se de ir ao limite do lucro.

Infelizmente no mundo das tecnologias isto está mesmo assim, eticamente mau. O exemplo dos jovens gozarem uns com os outros é um dos mais claros de como o capitalismo entrou nas nossas sociedades, não haja dúvida.

No entanto, há mais! Aliás, olhem para o cinema. Já reparam que o número de clássicos é enorme antes de o capitalismo subir à cabeça das produtoras? Atualmente produzir clássicos é quase uma nulidade. Qual foi o último que realmente entrou nessa categoria? E sabem porquê? Porque estragam sempre os filmes com perspetivas de sequelas para render mais dinheiro, não há hipótese.

Mas o exemplo mais claro está nos computadores e smartphones claro. Nos smartphones há sempre muitas coisas que podiam ter integrado mas só o fazem na próxima versão. Já nos computadores a coisa é clara, reparem na evolução mensal há uns anos atrás dos processadores: A cada mês que passava aumentava 50MHz a velocidade do processador (época do Pentium II e Pentium III).

Será que eram eles que consigam fazer descobertas cientificas mensalmente capazes de aumentar o clock a cada mês que passava? Claro que não! No entanto, foi assim que conseguiram faturar muito durante dois ou 3 anos com inovação falsa.

É triste o mundo em que atualmente vivemos. Antes comprava-se produtos de casa, por exemplo eletrodomésticos, copos, bacias e eles duravam uma vida. Aliás, ainda duram em minha casa! Mas quando compramos algo atualmente essas mesmas coisas duram 1 ou 2 anos, mais nada. Elas partem, estragam-se, ficam feias e as pessoas tendem a comprar outra igual e entrar no ciclo.
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Re: Obsolescência programada e lançamentos excessivos...

Mensagempor Renato Santos » Ter, 18 de Setembro 2012, 21:44

Confesso que eu tinha vergonha de levar meu notebook para a aula, só por não ser um modelo com resolução 16:10 (1280x800, 1920x1200). Na época, todos os notebooks eram 16:9 (tipo 1280x720, 1920,1080) e eu pensava exatamente assim como diz a postagem: preciso ter um notebook mais recente, para ficar no mesmo nível dos outros. Até me sentia mal quando comprava um produto e via uma versão mais recente estampada na vitrine da loja. É torturante isso!

Mas hoje entendo que, se eu comprar tudo que a propaganda me mostra, eu terei que dormir fora de casa.

Ganhei um Galaxy Tab P1000 de presente e fiquei frustrado quando lançaram o Galaxy Tab 2. Quase que no mesmo instante pensei que meu tablet era um lixo. Mas depois refleti e entendi que Eu não precisava ter um produto recém-lançado. Eu não preciso comprar um produto novo só porque é lançamento e ninguém o tem. O próprio verbo já indica a ação: só quando for preciso!

Mas é difícil pensar e refletir sobre isso em uma época onde sua personalidade depende do gosto da maioria das pessoas (infância e adolescência). :doh:
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Re: Obsolescência programada e lançamentos excessivos...

Mensagempor Claudio Novais » Ter, 18 de Setembro 2012, 21:55

Acima de tudo, Renato, é dificil ter uma personalidade diferente naquela parte da personalidade em que todas as pessoas ao nosso redor são iguais. Infelizmente todos nós estamos já modelados pelo capitalismo. Apesar disso eu tento sempre "não cair na tentação", mas infelizmente nem sempre é assim.

A minha maior conclusão sobre o verdadeiro capitalismo foi o seguinte: comprei o meu i5 há um ano e meio e fiquei e estou feliz com ele. No entanto, comprei por ser bom, topo de gama, só o i7 passava à frente mas não queria demasiado calor que ele produzia. Há uns meses a minha namorada comprou um computador muito mais modesto, atualmente bem abaixo da média dos atuais. Comprou pois simplesmente utiliza o computador para Internet e aplicações de escritório. Não precisa de alto processamento.

Qual foi a conclusão do capitalismo? Eu experimentei o portatil e ele funciona muitíssimo bem com o Ubuntu. Aliás, talvez mais rápido que o meu e não é um i5, é a gama abaixo do i3! Qual a conclusão? Não interessa comprar um computador de topo. Comprem algo abaixo da média, se depois quiserem com o dinheiro que sobrou (provavelmente compram por metade do preço) voltem a comprar outro com o resto do dinheiro e têm um outro computador bom na mesma!
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Re: Obsolescência programada e lançamentos excessivos...

Mensagempor Renato Santos » Ter, 18 de Setembro 2012, 22:06

Realmente isso que você disse faz todo sentido. Compramos produtos eletrônicos mais pelas suas especificações do que pelo próprio uso. Não compramos um telefone para falar com mais clareza, compramos um galaxy sX ou iphoneX (3, 4, 5...) porque ele faz milhões de coisas, e só usamos uma delas.

Um exemplo claro é a minha irmã. Ganhou um Iphone 4S, presente do marido. Nas palavras dele, ela possui uma máquina poderosa. Quando ela precisa acessar algum site e está na rua, liga para mim e pede que eu o faça. Aposto como isso acontece com boa parte das pessoas que possuem smartphones.

Meu notebook foi comprado em 2010. Hoje uso Windows 8 e Arch Linux e desde então nunca tive problemas (inclusive o utilizei como backup quando meu desktop deu problemas no HD. Copiei cerca de 80gb via rede para o notebook :P). Tenho tanto cuidado que, depois de todo esse tempo, a bateria ainda dura cerca de 4h de uso :D.
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Re: Obsolescência programada e lançamentos excessivos...

Mensagempor marcos.vargens » Ter, 18 de Setembro 2012, 22:07

Ninguém é obrigado a comprar vamos lembrar disso. Infelizmente o que acontece é que as pessoas compram sem limite. Estamos falando aqui com foco em eletronicos, mas com carros acontece a mesma coisa. Se os eletronicos ficarem nas prateleiras e os carros no pátio das vendedoras, eles param com essa palhaçada e fazem uma coisa boa que funcione direito e dure, porque se você ficar trocando de ano em ano, nunca vai saber se o produto é duravel ou não. E se a maioria não quer saber, então porque a industria vai fazer isso? Nós consulmidores é que devemos barrar isso. Não comprar o que não precisamos. Mas vendo como estão as coisas, acho dificil. O iphone 5 está batendo record de pré venda sem oferecer nada além de uma carcaça nova.

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Re: Obsolescência programada e lançamentos excessivos...

Mensagempor Claudio Novais » Ter, 18 de Setembro 2012, 22:09

marcos.vargens (18-09-2012, 22:07) escreveu:O iphone 5 está batendo record de pré venda sem oferecer nada além de uma carcaça nova.

Esse é o perfeito exemplo do poder atual do capitalismo. Quando penso nisso só me apetece fazer um enorme facepalm! :facepalm2:
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Re: Obsolescência programada e lançamentos excessivos...

Mensagempor Saresa » Ter, 18 de Setembro 2012, 23:08

Assisti a esse filme na faculdade, e, se não se importarem, vou puxar um pouco a sardinha para o meu curso.

São políticas e mentalidades como essa que originam a maioria dos problemas ambientais que temos hoje. Um sistema de produção assim pressupõe que os recursos naturais são infinitos, e que podemos consumi-los e gerar quanto resíduo quisermos, pois é isso mesmo que os aparelhos descartados se tornam: lixo eletrônico que vai ser disposto nas praias de países subdesenvolvidos ou áreas nada adequadas (aterros e lixões).

Hoje, se quisermos ter um padrão de consumo semelhante ao da classe média dos EUA, seriam necessários quatro planetas Terra para fornecer todos os recursos não só para fabricação, mas também embalagens, transporte (da lavra para o refino, do refino para a fábrica, da fábrica para o atacado, do atacado para o varejo, do varejo para o consumidor... do consumidor para o lixo...), etc. Fora que todo esse material contém substâncias bem tóxicas e difíceis de tratar.

"Ah, mas dá pra reciclar!" Sim, reciclar é importante, mas deve ser feito em último caso. O ideal seria seguir o princípio dos 3 Rs: REDUZIR o consumo, REUTILIZAR o que foi consumido, e RECICLAR somente o que não puder ser reutilizado.

Uma tendência nova que muitas empresas estão seguindo é a da logística reversa: quando acabar a vida útil do produto, as empresas se encarregam de dar uma destinação adequada: retornar ao processo de produção, reciclar ou dispor em locais adequados. Mas isso não adianta muito se essa vida útil não for aumentada...

Por fim, deixo um bom vídeo para complementar esse meu texto: "A História das Coisas".




PS: sem querer acabei postando em um tópico mais antigo sobre o mesmo assunto, mas movi pra cá =P
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Re: Obsolescência programada e lançamentos excessivos...

Mensagempor Claudio Novais » Qua, 19 de Setembro 2012, 15:05

Gostei muito desta sua opinião Saresa. A verdade é que nós pessoas normais estamos a tornarmo-nos nuns peões. Não interessa o que nós somos nem como ficaremos. O que interessa é o lucro que podemos dar. Portanto, nós somos peões, ou números, e nada mais.

Não há qualquer preocupação com tudo o resto pois quem lucra tem dinheiro para ter qualidade de vida boa (não sei se será assim mas eles pensam assim). O problema dos lixos, a meu ver que não tenho qualquer conhecimento sobre ciências da terra e da vida, parece-me que vai ser gigante dentro de uma década ou duas. Os problemas da poluição serão desastrosos certamente e parece-me que a qualidade de vida das próximas 2 ou 3 gerações será consideravelmente pior que a qualidade de vida de há 8 ou 9 gerações atrás da nossa (e para trás claro).

Na minha opinião o nosso presente vai ser algo único na humanidade. Nunca a humanidade tinha vivido tão bem (não me refiro aos países de África porque esses infelizmente pouco melhoraram) e parece-me que por do abuso de querer ainda mais vai voltar a viver uma vida má.

Sobre o vídeo, gostei da achega ao governo e parece-me que as estatísticas da água devem estar piores. Pelo menos aqui em Portugal a coisa cada vez fica pior. E há certos países que isso ainda é bem pior.
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Re: Obsolescência programada e lançamentos excessivos...

Mensagempor Rafael Schonberg » Qui, 4 de Abril 2013, 13:12

Conhecem a história das lâmpadas de Edison?

Quando Thomas Edison inventou a lâmpada em 1879, em pouco tempo a mesma foi capaz de durar 1.500 horas. Em 1911 o mercado já via lâmpadas com duração de 2.500 horas sendo produzidas. Em 1924 o surgimento do Phoebus cartel formado pelos grandes players do mercado na época, limitaram a produção de lâmpadas com duração de até 1.000 horas. Se as empresas participantes do cartel produzissem lâmpadas que durassem mais do que 1.000 horas elas receberiam uma multa.

http://www.materialeletrico.blog.br/obs ... s-lampadas
O homem não consegue descobrir novos oceanos se não tiver a coragem de perder de vista a costa. — André Gide
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