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O que podemos aprender com os produtos e serviços piratas

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O que podemos aprender com os produtos e serviços piratas

Mensagempor Ron Alon » Dom, 14 de Outubro 2012, 23:52

Lacunas de mercado e falhas no atendimento oferecido pelas empresas formais abrem brechas onde há demandas pouco atendidas. Será que podemos aprender alguma coisa com os piratas?

Por Bruno Garcia

Todos nós, em algum momento de nossas vidas, nos relacionamos com produtos  piratas . Tradicionalmente, o termo se refere a itens falsificados, como cópias de relógios, roupas, CDs, games e até livros. Hoje, porém, o conceito de pirataria se estende aos serviços.

No Rio de Janeiro há exemplos clássicos, como a  GatoNet , a  GatoVelox , os ônibus e vans piratas e as ligações clandestinas de água e energia elétrica.

Outra prática considerada pirataria é o compartilhamento de músicas e filmes em formato digital. Mas será que não podemos aprender algo com este quadro?

Quando analisamos caso a caso, um aspecto comum chama a atenção: os produtos e serviços piratas ganham força para suprir um gap entre a demanda de um segmento e a falta de oferta.

O caso do transporte alternativo no Rio de Janeiro é emblemático: por décadas, as empresas de ônibus se apoiaram na Fetranspor (que sempre teve excelente relacionamento com o poder público) para oferecer um serviço irregular, precário e incompatível com as necessidades da população.

Com isso, motoristas de vans e kombis se estabeleceram e cresceram cobrindo inicialmente itinerários que eram desprezados ou invisíveis para as empresas. O transporte alternativo ganhou musculatura, se  oficializou e se tornou um império (sem aqui entrar no mérito da estreita relação com criminosos e milicianos).

Mas tudo começou a partir de uma demanda não atendida ou de um serviço prestado de maneira incompleta. Onde as empresas erraram? Será que não perceberam a brecha aberta para a concorrência? O monstro cresceu e está aí: somos todos forçados a conviver com ele.

Ainda no exemplo do transporte público, as empresas de ônibus continuam precárias, apesar de alguma evolução.

Do meu trabalho até em casa, tomo um ônibus especial, desses com ar condicionado. No ponto ao lado, há um terminal  pirata : um ônibus também com ar condicionado, cobrando uma tarifa R$ 2 mais barata. Só que não para por aí: foram criados serviços diferenciados começando pelo fato de que os veículos têm hora certa para chegar e sair do terminar (sim, isso é uma inovação para as empresas de ônibus no Rio).

Os piratas devem ter estruturado uma logística maravilhosa, ainda novidade para nossas organizações tradicionais, não é mesmo?

Além disso, é possível reservar o seu lugar pagando semanal ou até mensalmente. Enquanto isso, eu e outras pessoas aguardamos em uma fila imensa por veículos que sempre atrasam e no final, pagamos mais caro para ir em pé ou temos que ficar por mais uma hora no terminal até que possamos voltar para casa com alguma dignidade.

O que faz com que uma cooperativa de ônibus irregular e possivelmente comandada por iletrados consiga oferecer o básico (transporte com horário determinado e sem atraso), enquanto uma empresa comandada por gestores diplomados não consegue?

O que permite a eles inovar, como no caso da reserva de vagas para passageiros que pagam a mensalidade? O que faz com que a GatoNet na Baixada Fluminense consiga atender a reclamações dos usuários em menos de 24 horas, enquanto Net e similares realizam um atendimento ruim e alvo de constantes reclamações?

Senhores, não pretendo fazer qualquer apologia a produtos e serviços irregulares. Sei também que os  pirateiros não são agredidos pelos impostos, taxações e tudo o mais que o sócio chamado governo cobra das empresas legalizadas. Porém, não me parece que as vantagens oferecidas por alguns serviços  piratas sejam frutos unicamente da ausência de taxações (afinal, no caso do transporte alternativo, foge-se dos impostos, mas não dá para fugir da máfia das cooperativas e dos milicianos).

A eficiência no atendimento e as políticas de relacionamento implementadas pelos  executivos de tapa olho fazem com que as investidas de grandes empresas nos mercados dominados por produtos e serviços alternativos resultem em fiasco. Por que uma família de baixa renda pagaria R$ 39,90 por uma TV por assinatura com poucos canais, se por R$ 30 mensais pode ter a  GatoNet em mais de um ponto da casa e com maior agilidade no atendimento?

Reparem nos detalhes: claro que se trata de um problema muito mais complexo envolvendo questões sociais, culturais, estruturais e até políticas. Mas focando sob o prisma do marketing e do relacionamento com os clientes, fica fácil perceber que a indústria pirata ganha muita força porque as empresas se mostram incompetentes ou descompromissadas em atender bem ou a suprir demandas reprimidas.

Em cenários onde há demanda mas falta oferta pelas vias oficiais, criamos uma brecha para o desenvolvimento de pirateiros e dos empreendedores informais e/ou ilegais. O MP3 era uma ameaça até Steve Jobs pensar no iTunes.

A pirataria é uma questão política que transcende a iniciativa privada. Mas no que tange às estratégias de relacionamento e o marketing como um todo, muitas marcas estão ficando para trás pela própria inércia e incapacidade de focar nestes mercados.

É um desejo de boa parte da nova classe média regularizar os serviços que antes contratava pelas vias alternativas. Nesse ponto, organizações comandadas por brilhantes executivos ainda perdem por não serem capazes de cumprir o óbvio e oferecer um atendimento mais eficiente.

Pergunto então aos senhores: podemos aprender algo com os piratas? Quantas outras máfias das vans serão criadas diante dos nossos narizes? Quantas oportunidades de negócio vamos perder por conta dessa inércia (ou arrogância) operacional? Precisamos, definitivamente, descer do pedestal.


Referências:



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Re: O que podemos aprender com os produtos e serviços pirata

Mensagempor abdo » Seg, 15 de Outubro 2012, 12:04

Boas Ron

Ótimo post, embora pouco ou nada tenha a ver com as nossas distros Linux, afinal nossos empresários que pouco enxergam não devem conhecer o Linux, e os executivos piratas só devem usar mesmo o legítimo Windows XPiratation para serem coerentes com suas atividades.

Concordo em partes com o texto e discordo de outras partes.
Concordo principalmente quando constata que o aparecimento da pirataria deve-se a inercia governamental e empresarial quanto a suprir o básico, fiscalizar e exigir um serviço digno pelas empresas oficiais e privadas.

Não considero pirataria o compartilhamento de filmes, musicas e livros pela internet, de modo gratuito já que este compartilhamento sempre existiu seja pelo emprestimo do bem, pela cópia xerocada, ou pela regravação em fitas e cd's.

Não sou a favor de Kombis e Vans agindo livremente, com bandalha, tumultuando o já caótico transito ficando minutos vários parados nos pontos a espera de passageiros, obrigando o transporte regular a parar em fila dupla e ate mesmo tripla. Sou a favor delas como um transporte complementar, levando o passageiro dos pontos regulares as sua casas, como no alto dos morros e sub bairros mais afastados, com o bilhete de integração para não onerar o passageiro.

Me recuso a comprar produtos piratas ou a usar os serviços piratas pois como todos nós sabemos aqui no Rio eles pagam impostos para milicias e traficantes, ou seja, nós os usuários financiamos o crime e reclamamos da violência deste mesmo crime.

PS1: Para os amigos portugueses, copia xerocada, é a cópia de livros feitas através das copiadoras, popularmente chamadas de Xerox aqui em terras brasilis, por ter sido esta empresa a primeira a disponibiçlizar esta tecnologia por aqui.

PS2: Para os não cariocas existem inumeros morros no Rio que não são favelas, com arruamento e calçamento, geralmente não servidos por transporte regular.

PS3: Ron, pelo menos aqui na Ilha as Vans agem como descrevi, e toda a população sabe, mas nunca vemos a guarda municipal ou a policia militar nestes pontos de bandalhas para reprimir ou ao menos organizar? Por que será? E ainda reelegeram o homem...

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Re: O que podemos aprender com os produtos e serviços pirata

Mensagempor Ron Alon » Seg, 15 de Outubro 2012, 12:27

Boas, abdo!

Concordo contigo em quase todos os pontos menos um: eu compro produtos piratas sim. Mas eu vejo mais como pagando alguém pra gravar pra mim um download. Porque os filmes hoje são deste tipo mesmo.

Por aqui onde moro, as vans são da prefeitura e elas vivem lotadas e você vai em pé também - nos horários de pico, claro. Quando elas estão no horário certo, elas vão rápido. Quando querem enrolar pra bater o ponto, demoram muito pra chegar no destino. Mas elas são cerca de 1 real mais barato que o ônibus. Então, vale a pena.
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Re: O que podemos aprender com os produtos e serviços pirata

Mensagempor abdo » Seg, 15 de Outubro 2012, 12:36

Boas Ron

Aqui funciona como no teu post, os "administradores piratas" usam bem as leis de mercado, de dia elas cobram apenas R$ 0,25 mais barato que os onibus (2,75 x 2,50) porem depois de meia noite, quando os onibus escasseiam ou desaparecem de vez, aí o preço sobe para R$ 3,00.
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Re: O que podemos aprender com os produtos e serviços pirata

Mensagempor Ron Alon » Seg, 15 de Outubro 2012, 12:56

abdo (15-10-2012, 12:36) escreveu:Boas Ron

Aqui funciona como no teu post, os "administradores piratas" usam bem as leis de mercado, de dia elas cobram apenas R$ 0,25 mais barato que os onibus (2,75 x 2,50) porem depois de meia noite, quando os onibus escasseiam ou desaparecem de vez, aí o preço sobe para R$ 3,00.


Olha só! Viu, dá pra fazer tudo isso. Quem não quer são as indústrias...
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Re: O que podemos aprender com os produtos e serviços pirata

Mensagempor Claudio Novais » Seg, 15 de Outubro 2012, 16:53

Eu apenas gostava de dizer algo sobre o conceito de "pirata". Na verdade, sempre cheio pirata a conteúdo ilegalmente copiado. No entanto, desde que fui a uma palestra do Sr Richard Stallman, eu mudei de ideias e agora tento sempre não dizer pirata.

Na verdade eu não quero agora dizer as razões que levaram a esta ideia do Sr Stallman, mas a verdade é que ele tem toda a razão. Se quiserem procurem por palestras dele no Youtube que ele costuma dizer as mesmas coisas portanto acredito que encontrem facilmente esta ideologia que ele sabe explicar bem melhor que eu.

Resumidamente, o conceito de conteúdo pirata vem da indústria querer ridicularizar algo que as pessoas atualmente fazem no quotidiano. Ridicularizar e ao mesmo tempo mostrar que é algo bastante negativo (a verdadeira pirataria sempre foi extremamente negativa e ainda o é, mas agora em muito menor escala nos dias hoje).

Mas na verdade muitos dos conteúdos ditos piratas na verdade já não o deviam ser piratas, nomeadamente algumas figuras da disney (e este é apenas o exemplo mais conhecido). Portanto na verdade não são piratas mas sim conteúdos ilegais. E esta característica de ilegalidade tem uma génese muito imoral: as empresas forçam os governos dos países a criar as leis para que possam ter o controlo máximo de conteúdos que rendam dinheiro. Portanto, o conteúdo ser ilegal não implica ser imoral ou anti-ético, antes pelo contrário muitos casos.

Assim, em suma devemos ter o cuidado de não ajudar a proliferar esta ideia tão negativa que a indústria nos tenta (e consegue impingir). Se eu apoio o conteúdo pirata como o Windows Seven, ou o Office ou outra coisa assim? Claro que não! As pessoas tiveram o trabalho do eu desenvolver e por isso podem pedir o que quiserem por ele e cada um compra se quiser.

Mas apoio, sim, deitar abaixo determinadas leis que definem como ilegais conteúdos que há muito que deviam ser do domínio público. Conteúdos que ainda não ilegais mesmo depois dos autores morrerem, algo que devia naturalmente ficar no domínio público, tal como acontece com as obras de beethoven mozart bach etc.
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