Por Marcos Elias Picão
Nos últimos dias a CarrierIQ não sai das manchetes online quanto o assunto é privacidade. Ela era uma empresa desconhecida do grande público, mas muito amiga das operadoras de telefonia móvel e fabricantes de dispositivos da área. Sua atividade? Nada mais, nada menos, do que monitorar o uso do sistema e do aparelho e enviar à nave-mãe.
Sabe aquelas opções de enviar relatórios de uso para aprimorar os serviços? Informações que "não identificam o usuário pessoalmente", mas "podem incluir dados de localização"... Em teoria elas ajudam os fabricantes a solucionar alguns tipos de problemas, gerando relatórios estatísticos sobre o uso dos programas, travamentos, etc. Até aí, tudo bem: seriam informações para ajudar a melhorar o desempenho disso ou daquilo, retornando os erros para as operadoras e/ou fabricantes de aparelhos. Mas na prática a coisa não é muito bonita.
Um cara publicou tudo o que conseguiu sobre a CarrierIQ, foi ameaçado de processo e não ligou... A partir daí o que era uma empresa desconhecida passou a ser temida pelos donos de smartphones.
O vídeo abaixo é assustador. O cliente recusa as opções de monitoramento sugeridas na tela, que poderiam "ajudar a melhorar os serviços", mas mesmo assim o software da CarrierIQ captura e envia dados. Muitos dados:
O problema é mais grave do que parece. O aplicativo da CarrierIQ está presente em milhares (milhões não seria exagero :P) de aparelhos de vários fabricantes, em vários países. Boa parte das gigantes da área usavam serviços dela (aparentemente, mais nos EUA). Algumas usam serviços próprios com a mesma finalidade. Para piorar, na maioria dos casos o aplicativo funciona praticamente como um rootkit, totalmente oculto. Não aparece na lista de processos, mas continua capturando e enviando detalhes das operações no telefone.
Vale a pena ler mais neste post no BR-Mac e no OS News, este que está agrupando as respostas de todos os fabricantes e operadoras que consegue.
Das respostas públicas vale citar a da Nokia, que afirmou que não usa serviços da CarrierIQ; do Google, que não embute nada da empresa no Android, porém as operadoras são livres para personalizá-lo e muitas, de fato, utilizam esse serviço; e da Apple, que se preocupou "tanto" que não usa mais a CarrierIQ no iOS 5, exceto no iPhone 4 (a maçã prometeu remover o serviço completamente com uma atualização). E ela garante que não, o rootkit de fábrica da CarrierIQ não lê seus e-mails nem mensagens de texto.
É, parece que Richard Stallman tem sólidos motivos para não usar um celular, mesmo sendo zombado por isso. Queira ou não o barulho foi enorme, a marca ficará para sempre na história das operadoras e fabricantes envolvidos.
Nessas horas faz falta um sistema operacional totalmente livre para smartphones, como existem para PCs. Pegar o código-fonte do Android, compilá-lo e fazê-lo funcionar num aparelho nem se compara à simplicidade de instalar uma distro Linux num PC, por exemplo. Para os entusiastas, nerds e geeks, seria ótimo essa aproximação. Quem sabe o Boot2Gecko, da Mozilla? Porque sinceramente, enquanto o Android vir pré-instalado com várias porcarias proprietárias dos fabricantes do hardware e/ou das operadoras, não dá pra dizer que ele é um bom exemplo de sistema livre.
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