Android terá nova camada FECHADA para evitar fragmentação!

[Claudio Novais]

O que um gigante da Internet faz quando seu plano de abrir o código de uma plataforma para deixar os fabricantes alterarem o sistema como quiserem leva a fragmentação e a pouco estímulo para os fabricantes enviarem atualizações aos usuários?

O Google parece ter encontrado sua resposta: colocar um novo componente intermediário, de código fechado e auto-atualizável sem intervenção do fabricante (nem do usuário...), entre os apps e o sistema operacional, e fazer com que o acesso à maioria dos serviços do sistema operacional dependa dele. Ele se apresenta como um app, mas tem praticamente todas as permissões. E se ele precisar de mais permissões, ele mesmo pode se auto-conceder.

Este longo e técnico artigo do ars technica explica o que é o Google Play Services e como ele interfere na arquitetura do Android, a ponto de estar sendo chamado de "a nova plataforma do Google", como se o sistema operacional abaixo dele agora tivesse um papel mais similar ao do Gonk, distribuição Linux por baixo do Firefox OS, por exemplo, que só está lá para carregar o piano do runtime Gecko que fica entre ela e todos os apps.

Isso explica, entre outras coisas, por que as atualizações de versões recentes, como o Android 4.3 (o artigo é da véspera do anúncio do Android KitKat) são muito mais relacionadas a serviços de baixo nível como o Bluetooth, o OpenGL e a API da câmera: muitos recursos mais diretamente percebidos pelo usuário, que antes eram apresentados e distribuídos como parte do sistema operacional, vêm migrando para as camadas superiores, fora das garras modificadoras dos fabricantes e distribuidores.

Recomendo a leitura completa, mas aqui está um trechinho: "A estratégia do Google é clara. O Play Services tem poderes no nível de sistema, mas é atualizável. Ele é parte do pacote de apps do Google, então não é open source. Os OEMs não podem modificá-lo, o que o deixa inteiramente sob controle do Google."

"O Play Services basicamente atua como um intermediário entre os apps normais e o sistema operacional instalado. No momento ele gerencia a API do Google Maps, a sincronização, o remote wipe, as mensagens push, os bastidores do Play Games e muitas outras tarefas."

Numa altura em que os casos descobertos de espionagem multiplicam-se a cada dia que passa, esta notícia parece ser um estender de uma passadeira para uma espionagem ainda mais eficaz. E vocês, o que acham de tudo isto?

Referências:

---

• Google encontrou a solução para a fragmentação do Android: uma camada obrigatória de código fechado - BR-Linux.org

[hailton]

As fabricantes tão pouco interessados em privacidade, apenas querem vender seus smartphones para render mais lucros. Os seus usuários devem estar preocupados e atentos a esse domínio da Google. Hoje é natural não receberem com frequência atualizações que venham a corrigir falhas no sistema, deixando os usuários presos as fabricantes e ao produto que depois de alguns meses se tornará obsoleto.
Há muitos smartphones com Android 2.3 (Gingerbread) e sem esperança de receber atualizações (com o fstrim e o master key).
O Firefox OS poderia ter em seu sistema (ou disponibilizar no site) um conjunto de drivers de smartphones que não possuem especificações mínimas para instalação do Android 4, para que qualquer pessoa pudesse trocar de sistema.
OFF-TOPIC:
Claudio, estava lendo sobre editar partições Android (/system, /boot, ...) e não entendi quanto a esses drivers uma coisa: é necessário que esses drivers estejam compilados de acordo com o kernel Linux? Por exemplo, driver compilado por kernel 2.6 não é compatível com sistema Android com kernel 3.0.8.

[Claudio Novais]

Sobre o Android, não faço ideia. Mas geralmente um driver faz uso das várias APIs (níveis de abstração) do Kernel. Sendo essas versões tão díspares é bem possível que haja incompatibilidades. Já agora, quando se instala um driver é altamente provavelmente que haja uma integração desse módulo/driver no kernel. Procure saber mais sobre "modprobe" no Google!

Quanto aos aspetos que você referiu sobre a questão dos fabricantes criarem esta limitação para os tornarem obsoletos, acho que faz todo o sentido, aliás é uma excelente técnica para a tão badalada (infelizmente!) obsolescência programada. Nesses sentido, como é óbvio, acho que a Google faria muito bem em decidir alguma medida drástica para evitar tais situações que até denegrecem a imagem do Android.

É que há uma enorme ideia de que o Android é lento, mas eu acredito que seja muito por culpa dos fabricantes! É que vejo muita gente a dizer para instalar o android puro pois vai sentir muita diferença. O problema é que fazer isso é perder a garantia do fabricante que, claro, ninguém a quer perder.

No entanto, a Google aproveitou-se desta situação para ter ainda maior controlo com os seus milhões e milhões de clientes, o que não é algo assim tão correto. Não seria suficiente alterar para uma licença proibitiva? Ou seja, ter o código aberto, mas que proibisse qualquer tipo de alteração?! Eu não percebo muito de licenças mas acho que isso seria suficiente!