A polícia francesa, o município de Munique, a Unicer e o Ministério da Saúde foram alguns dos casos que subiram esta manhã ao palco do Linux 2013, o encontro nacional de tecnologia aberta que este ano chega à XI edição.
Entre as apresentações destaca-se a importância que o mundo dos smartphones e tablets está a assumir, com o Android e também com a estratégia da Mozilla no FirefoxOS, mas os servidores continuam a ter um papel relevante, ao mesmo tempo que os desktops com Linux assumem maior peso, apesar da tendência de decréscimo no mercado de computadores pessoais.
Paulo Trezentos, diretor técnico da Caixa Mágica e investigador do ISCTE, lançou mesmo um desafio em forma de aposta: com base nas taxas de crescimento verificadas nos últimos anos, existe uma grande probabilidade de que, daqui a 5 anos, 50% dos desktops corram uma das várias versões de software aberto.
Mesmo sem garantir que a aposta feita será ganha, Raúl Oliveira, CEO da IPBrick, mostrou também a forma como o open source está a ganhar espaço nas grandes empresas portuguesas. Com as soluções de comunicações unificadas da empresa mas também com presença nos desktops.
"Somos fabricantes de servidores mas temos sentido cada vez mais pressão para instalar desktops", explica, citando o exemplo da ARS do norte que substituiu as plataformas Microsoft por Linux em 30 computadores, um número que se pode alargar a outras organizações tuteladas pelo Ministério da Saúde. Aliás, o centro hospitalar do Porto já tem dezenas de servidores IPBrick e está a instalar desktops, prevendo ter 400 até final do ano e em pouco tempo alargar a 6 mil postos de trabalho.
"O Open Source está maduro. Se não acham que está maduro o suficiente têm de ir vindimar para outro lado", desafiou o CEO da empresa portuguesa.
Dois casos internacionais com 10 anos de história
Para provar a maturidade das soluções open source e a sua aplicação a projetos de grande dimensão a organização do Linux 2013 trouxe ao Lispolis dois casos com uma longevidade de uma década e milhares de equipamentos migrados para Linux.
Stéphane Dumond, responsável de projeto da Gendarmerie Nationale, a polícia francesa, contou a história e experiência da organização nos últimos anos. O projeto GendBuntu já garantiu a migração de 37 mil computadores para Ubuntu e planeia chegar aos 72 mil até final de 2014.
A decisão de mudar aconteceu em 2004 na altura em que se registou um crescimento do número de utilizadores na organização de 20 mil para 95 mil, o que teve um impacto enorme na organização de IT.
Admitindo que o resultado dos últimos anos "não é o céu na terra", Stéphane Dumond avisa que o projeto demorou muito tempo a ser bem-sucedido e foi avançando com pequenos passos, que ajudaram a conquistar a confiança dos utilizadores.
Mesmo sem conseguir medir os benefícios obtidos, o responsável do GenBuntu aponta a liberdade de decisão como a principal conquista, mas revela ainda que o custo total de posse (TCO) dos computadores baixou 40% desde 2008, com redução em licenças, melhoria na facilidade de gestão e redução nas intervenções técnicas.
"É possível implementar milhares de Linux em desktops. Nós conseguimos mas o caminho é longo e difícil", sublinha.
O exemplo do município de Munique voltou também a ser destacado no Encontro Nacional sobre Tecnologia Aberta. Frank Siebert, da Trinuts, é um conselheiro do projeto que a empresa acompanhou nos últimos anos e destaca que o caso é bastante diferente pela diversidade de aplicações usadas, pela dispersão da organização em 20 departamentos.
O município implementou 15 mil workstations, superando as metas iniciais, sendo a principal razão da decisão relacionada com a independência em relação aos fabricantes de software proprietário. Frank Siebert defendeu a importância de avançar em pequenos passos mas de garantir apoio de topo, como aconteceu em Munique onde o projeto era patrocinado pelo presidente da câmara.
À parte do caso específico de Munique, Frank Siebert deu também um contributo para a discussão sobre a importância do Linux crescer no mundo dos desktops. "Nos próximos 20 anos vai haver desktops na Administração Pública. A mudança para a mobilidade é um movimento lento e [as administrações] não vão trabalhar com smartphones e tablets por isso é muito importante que o Linux tenha uma fatia importante deste bolo".