Ubuntu Edge: à beira do precipício

O jornal britânico The Guardian fez uma análise sobre o dispositivo móvel da Canonical e sua grande jornada para sair do papel. Segundo o texto, o Ubuntu Edge não conseguirá atingir a meta de 32 milhões e isso fará com que o objetivo da Canonical fique mais difícil de ser cumprido.

Caso você não tenha acompanhado as notícias recentes, o dispositivo da Canonical será dual-boot com o sistema Android, da Google, e poderá ser utilizado como desktop Ubuntu ao conectar numa dock. Caso você queira saber mais sobre o Ubuntu Edge, o Ubuntued tem um artigo sobre o celular e temos uma categoria própria com as notícias relacionadas ao dispositivo.

Este artigo trará os pontos principais do artigo do The Guardian sobre o Ubuntu Edge que conta com opiniões de Jason Waddell e Willem Ligtenberg, ambos da Open Analytics.

Esqueça os 32 milhões

Gráfico do investimento realizado e previso do Ubuntu EdgeA primeira opinião é de que o objetivo de 32 milhões não será alcançado. Segundo a opinião dos consultores, a Canonical conseguirá arrecadar entre 18 e 22 milhões, levando a laranja ao bagaço, já que, caso o Ubuntu Edge não chegue a 32 milhões, o projeto será cancelado.

Apesar de ter conseguido metas ótimas em tão pouco tempo (em 24h, o Ubuntu Edge arrecadou mais de 3 milhões), a campanha vem perdendo força e ainda precisa de aproximadamente 23 milhões para os 32.

A Canonical tem conhecimento desta situação. Na verdade, a empresa começou a se preocupar de tal maneira que está criando concursos para trazer movimentação ao projeto e diminuiu, por duas vezes, o preço mínimo para comprar o equipamento. Originalmente a 830 dólares, depois por 725 e, agora, por 695 dólares. Hoje, o contador chegou a 9 milhões de dólares (cerca de 30%) – e restam menos de 15 dias para o fechamento da “vaquinha”.

 

E se não atingir?

O artigo do The Guardian informa que, caso a campanha arrecade 22 milhões, será a maior colaboração deste tipo já realizada. Porém isso não significa que o Ubuntu Edge será abandonado. O projeto pode, claro, não conseguir todo o apoio esperado do público. Existem diversas opções que podem ser seguidas pela Canonical. Mark, que já deu um pulinho no espaço, poderia finalizar a meta – ou até mesmo a sua empresa ou uma terceira, como a Google, Mozilla ou até mesmo a Microsoft (a Bloomberg comprou o pack de 80.000 dólares e levará 100 dispositivos). Aliás, neste momento, nada impede que estas empresas doem para o Edge. O mais provável é que a própria Canonical banque o possível restante e que os consumidores ganhem um novo dispositivo.

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Até o momento, o Edge…

No começo, o aparelho Ubuntu era o dispositivo mais falado. Mas, como todas as últimas novidades da Canonical, caiu no esquecimento do público. O Ubuntu for Android, Ubuntu Phone/Tablet OS (Ubuntu Touch) e a Ubuntu TV são exemplos disto. O Edge continua sendo divulgado mas de uma maneira ruim: a Canonical não vai conseguir a meta e está desesperada para conseguir. Dizem que toda a publicidade é bem vinda, seja boa ou ruim. Mas, neste caso, não é assim que funciona. O Motorola Moto X, por exemplo, foi anunciado já com uma data e já com a promessa de novos dispositivos. Claro que estamos falando de uma empresa como a Google, mas este tipo de marketing já é o adotado por empresas como Samsung, LG e Nokia. A Amazon, com os seus dispostivos, também não se deixam morrer. Para não falar da Apple, que colocam seus aparelhos em pré-venda no momento das keynotes. O erro canônico da Canonical é anunciar um produto e, simplesmente, deixá-lo ali, sem uma previsão ou uma previsão que fará com que ele seja esquecido.

O Ubuntu Edge teve divulgação grande antes do anúncio da colaboração pública. Os vazamentos das imagens contribuiu para isso. O que o público realmente esperava era um dispositivo que pudesse ser adquirido logo. Era algo que poderíamos tocar. Ao compararmos com o anúncio do Moto X, por exemplo, a mesma situaçao aconteceu: vazamentos de fotos. Mas a Motorola já anunciou o dispositivo, uma data bem próxima e seu preço.

O Edge é um ótimo dispositivo com uma configuração única no mercado. Mas, até o fim do ano, é possível que um aparelho parecido seja lançado. E os concorrentes gostam de ter informações antes de lançamentos. A Canonical está fazendo exatamente isso. Ao invés de oferecer um produto único, está dando uma receita para seus concorrentes antes de lançar o produto original e estas outas empresas utilizam as ideias originais em seus dispositivos. Uma pesquisa no YouTube já mostra recursos do Ubuntu Touch em aparelhos Samsung, por exemplo. E de forma nativa. Enquanto isso, o Ubuntu Touch foi lançado em quantos aparelhos oficialmente e para usuários que não sabem como mexer num Terminal?

Ubuntu Touch

E o que isso significa para a Canonical?

Toda esta situação faz com que todas as apostas da Canonical fora do mercado desktop sejam consideradas imaturas e que não são dignas de serem levadas a sério. A Google está lançando um sistema para TV via HDMI totalmente integrado a todos os seus sistemas (Chrome OS e Android) e em qualquer outro sistema via Google Chrome. Isso não se parece com o Ubuntu Touch e Ubuntu TV? A integração entre um único sistema proposta pela Canonical não será realizada pela própria Canonical? O próprio Ubuntu for Android pode nem aparecer mais caso o Ubuntu Edge não vá para a frente. Um dos projetos que fez a Canonical ser tão elogiada e que é tão aguardado por entusiastas Linux e Android pode ser totalmente enterrado sem ao menos ser lançado – de certa forma, já que foi feita uma propaganda imensa dele pela própria Canonical.

Dispositivos UbuntuO que temos é um exemplo de que a laranja está virando um bagaço cada vez mais rápido. Ao tentar se igualar a empresas grandes, a Canonical está perdendo o foco. É importante trabalhar em plataformas diferentes. Um dispositivo, um sismtema móvel, um sistema desktop e unir todos eles. Mas o modo em que isto é realizado está gerando diversos problemas de direção: o Touch está dependendo da comunidade para suporte a outros dispositivos, enquanto o Edge é fechado. Mas não é só isso. Com diversos produtos sendo anunciados e nunca lançados, como poderemos confiar num próximo passo ou produto da Canonical? Como podemos saber se um próximo produto anunciado chegará algum dia a ser lançado? O que temos certeza de verdade é que existem mais interrogações e incertezas ao pensarmos em Canonical e Ubuntu. E é por isso que o Ubuntu Edge precisa dar certo. A Canonical precisa que o Edge dê certo. Caso contrário, a própria empresa pode rumar à beira de um precipício.

 

Mas nem tudo são quedas

Caso a Canonical faça uma doação para chegar à meta de 32 mihões de dólares, terá o apoio da comunidade e gastará menos do que se tivesse investido os 32 Milhões sozinha. Isso fará com que as pessoas que ajudaram sintam-se parte daquele dispositivo. E isto é muito positivo. A Canonical manterá, inclusive, uma página com o nome dos doadores. Isso mostra que a empresa está empenhada com seu público, ao contrário de outras. Este tipo de situação faz com que o público se sinta conectado à empresa. Isso é ótimo para a imagem da Canonical.

Steam no UBuntuUm segundo ponto é que a Canonical foi a responsável principal pelo crescimento do Linux nos desktops. A empresa conseguiu fazer com que as criadoras de jogos, como a Valve e a EA, virassem seus olhos para o pinguim. Com isso, as empresas de placas de vídeo começaram a tratar de maneira melhor seus drivers proprietários para o Linux, mostrando que consegue-se até um desempenho melhor no Linux na Steam, por exemplo, do que no Windows.

Para finalizar, a Canonical tem a maior comunidade voluntária que trabalha para ela. Isso mostra o poder que o Ubuntu tem para seus usuários e o quanto a Canonical é querida por quem programa para ela – e até mesmo caça bugs e traduz aplicativos. A Canonical sabe o que está em risco e está apostando alto no Edge. E, se a Canonical faz questão de apostar todas as suas fichas neste produto, devemos dar uma chance para ele. O crescimento do Ubuntu é o crescimento do Linux também. O Edge poderia ser um dispositivo totalmente fechado mas, pelo contrário, é aberto. Você poderá tirar o Ubuntu e deixar apenas o Android, por exemplo. Ou, quem sabe, instalar o Firefox OS ou o Meego. Ou o Cyannomogen, o fork do Android.

O Edge é a esperança de um mercado móvel livre. E eu estou pronto para apostar minhas fichas no dispositivo. O Edge, acima de tudo, é um chamado para a liberdade. É uma amostra de como os smartphones deveriam ser desde o começo. Uma amostra de como eu queria que meu smartphone fosse. E, devo dizer, que é o smartphone que todos nós queremos e apenas uma empresa como a Canonical poderia trazê-lo para nós.

 

Referências

13 Respostas ate agora.

  1. JRoberto Castello diz:

    na minha opinião, vejo justamente o contrário, pois conhecidos meus que usam outros phones ficaram impressionados com o Edge, inclusive sua elegância e diferencial nas cores ea impressionante usabilidade.
    O que pode acontecer é terem que aguardar mais, e trabalhar mais além do prazo estimado, para alcançar as vendas previstas… o sucesso já existe, assim como eu, que inclusive não tinha muito interesse nos tablets e phones, estou aguardando a chegada ao Brasil para ter o Edge, simpatissíssimo, e bem melhor que os outros.
    Ou então receberei um enviado para mim, por minha filha que se encontra no exterior.
    Volto a dizer que o sucesso já é fato, o que pode haver é apenas não acontecer algo mais dentro das expectativas programadas. É questão de tempo, pra pelo menos estar entre os mais usados e vendidos no mundo; e se tiver preço melhor então…
    Parabéns Canonical e a todos que contribuem pelo mundo! Sou seu fã. O Ubuntu é revolucionário.
    Abraços.

  2. Rodrigo DK diz:

    Excelente artigo, desde o anuncio do Ubuntu Edge e da vaquinha para realiza-lo que venho acompanhando de perto o desenrolar, me entristece saber que não há tantos colaboradores quanto o projeto necessita para atingir a meta, mas também acredito que de um jeito ou de outro ele será concretizado e assim como o Ubuntu/Canonical faz no mundo dos sistemas operacionais, no mundo dos Smartphones ele também vai ser um destaque a parte, como alguns também acreditam, talvez até criem um novo paradigma, onde você possa escolher o que quer ou não quer no seu smartphone, chega de sistemas desatualizados sem a possibilidade de upgrade pra versões mais novas e dezenas de apps que você não quer, mas vem junto e se você "rootar" pra tirar perde a garantia. Eu sinceramente espero que a Canonical consiga mudar esse quadro, e que sendo esse o diferencial do Edge, ele fará muito sucesso! Tô só aguardando pra ver.

  3. Ricardo diz:

    Mano se eu não tivesse meio apertado, teria sido uns dos primeiros…gosto de tudo que venha da canonical, uso o ubuntu a 4 maravilhosos anos e a cada dia mais apaixonado….

  4. Diogo O. dos Santos diz:

    Se eu não tivesse tão apurado financeiramente juro que compraria um sem problemas! Acredito no trabalho da Canonical e espero que a família "Ubuntu", cresça e evolua mais com o passar do tempo. Uso esse sistema há cinco anos e espero usar a inda por muitos anos. Maravilhosos são todos da família linux!

  5. Ricardo diz:

    O The guardian faz uma análise baseada nos padrões sociais atuais como se o Edge fosse um lançamento para conquistar o mercado como o S4 ou o moto X, na realidade pelo que entendi no video esse era um projeto paralelo e citando o Mark "apenas para nós entusiastas" ele tinha a intenção de mostrar que as grandes empresas estão nos dando migalhas de tecnologia e nós somos obrigados a aceitar.

    Novamente citando o video de lançamento (tradução livre claro):
    - as empresas estão confortáveis liberando aos poucos novidades e elas tem anos para ganhar dinheiro com esse paradigma, nós queremos arrastar para hoje a tecnologia que nesse ritmo só estará disponível em anos.

    Antes do Edge não me lembro de nenhum anúncio de aparelho parecido com ele, se agora o the guardian anuncia qeu antes do final do ano teremos celulares melhores qeu o Edge então: MISSÃO CUMPRIDA.

    Outro fator é qeu a Canonical está com problemas com o s lançamentos como o ubuntu para android, por exemplo, pelo fato dos celulares não suportarem a proposta, sendo qeu a canonical não fabrica celulares acredito qeu o sonho dela é qeu motorola, samsung e cia copiem mesmo o Edge e até melhorem desse modo o ubuntu poderá ser instalado em qualquer aparelho, se eu fosse a canonical empresas copiando um aparelho para rodar o meu sistema é um presente de natal.

    No final das contas sem colocar a mão no bolso (ou quase) a canonical vai criar condição para o ubuntu se consolidar e ainda remodelar todo o mercado de dispositivos móveis.

    Admito qeu a canonical não é perfeita e qeu muito do que eu escrevi não passa de um exagerado exercício mental sem nenhuma conexão com a realidade, mas não acho qeu as análises de meios de comunicação que estão programados para analisar o mundo de acordo com a lógica vigente (briga de patentes e segredos industriais) esteja apto para analisar assuntos de comunidades livres notadamente tem uma lógica totalmente diferente.
    Em uma sociedade onde empresas brigam para patentear o redondo nada como uma que planeja um realmente inovador e distribui gratuitamente os planos para quem quiser usar copiar alterar e redistribuir

  6. Junior diz:

    qual e site que a Canonical mostra a lista de colaboradores ?

  7. Beto diz:

    Excelente artigo! Concordo com tudo o que esta escrito.
    E pelas suas configurações o Edge vale muito a pena.
    Infelizmente o Edge é um sonho muito distante para quem vive no Brasil. Pois, ao recebê-lo aqui o seu preço quase que se duplica. Se você vive no Brasil e tem curiosidade de saber quanto pagaria para receber o Edge, basta fazer o calculo neste site: http://www.tributado.net
    Creio que só conseguirei ajudar com o valor de USD $20, pois até o valor para a camiseta ficará ridículo.
    Rezo e torço muito para que a campanha do Edge dê certo.

  8. Cláudio Novais diz:

    Sem dúvida que este artigo está espetacular! É precisamente o que penso. A Canonical tem dois problemas: é uma empresa que como qualquer uma centra-se no objetivo de ganhar muito dinheiro mas que está sempre à espera da mão de obra barata da comunidade.

    Ora isto dá problemas. Por um lado uma empresa que queira ganhar muito dinheiro inevitavelmente tem de investir dinheiro em, neste caso, mão de obra. Não adianta, é preciso muitos engenheiros para conseguir entrar onde eles querem entrar: no mundo móvel, nas casas de cada um de nós através da ubuntu TV e até (já bem sucedidos) de forma indireta nos servidores. O problema é que para se destacarem eles têm de estar por conta própria, não podem estar constantemente a mandar no caminho e ficar à espera da comunidade.

    O Ubuntu tem uma das melhores comunidades, mesmo, no entanto, ela tem limites de paciência. Reparem que o Ubuntu desktop tem estado quase encostado ao lado, onde as novidades quase só vêm da equipa do Gnome. Por outro lado, dizem que fazem o Ubuntu Touch (e estão a fazer porque é projeto que devem estar a investir mais), escolhem o seu caminho sem sequer se importarem com a opinião da comunidade, mas acabam logo por pedir ajuda, nomeadamente em Apps e compatibilidades com o hardware.

    O mesmo aconteceu agora com o Ubuntu Edge. Eles querem ganhar muito dinheiro neste que é um dos nichos mais competitivos que há no mundo atualmente. E então com isto pedem ajuda à comunidade para pagar o investimento? Mas então eles não têm uma base monetária grande? Não têm eles objetivos claros de ganhar muito dinheiro com isto o mais rápido possível? Para isso é preciso eles também darem os passos para a frente.

    Com isto não quero dizer que a Canonical está completamente errada. Não está! No entanto, acho que a Canonical precisa de mostrar também que dá os seus passos no caminho do sucesso! Ela própria tem de mostrar à comunidade que acredita no projeto. Sem isso, muita gente acaba por não acreditar e não investir.

    Por fim finalizo com: a Canonical não é má de todo e está mesmo em muitas frentes, o que é ótimo:

    Apenas precisam se calhar de investir um pouco mais em recursos.

  9. marco diz:

    Eu acredito que a Canonical, mesmo sem a campanha teria feito esse smartphone, é o planejamento do tio Mark, ele disse que o Ubuntu teria milhoes de usuários, não me lembro a quantidade exata, e ele conseguirá muitos usuários se esse smartphone e posteriormente um tablet saírem do papel e sem portarem com estabilidade e desempenho, se isso acontecer os programadores farão apps para esta plataforma, só espero que tenha controle para apps nesses aparelhos…

    • Cláudio Novais diz:

      200milhões até 2015 se não me engano! ;)

      Este valor de usuários é a prova do que eu acabei de dizer no comentário deste artigo: eles têm objetivos muito grandes mas não querem investir à mesma altura. Eles precisam de mostrar que eles próprios acreditam nisto! Acho que acreditarem nisso e terem uma comunidade que têm é o suficiente para em poucos anos estarem no topo da credibilidade!

    • marcos diz:

      Olhando a velocidade em que o Ubuntu avançou e arrastou com ele vários projetos que poderiam ficar parados no tempo, eu acredito no mesmo que você. O aparelho seria lançado com ou sem campanha, mas a campanha economizou muito dinheiro que poderá ser usado para fins de marketing, O aparelho irá ser lançado sim, mas duro vai ser concorrer com Android e IOS. Eu acho que esse publico ele não ganha. Mesmo assim acredito que o "resto" ainda deva ser vantajoso, pois tem muita gente disputando esses números.

  10. Angelo Brito diz:

    Que artigo espetacular.. Tudo o que eu penso está ai, incluindo criticas a propria Canonical sobe a divulgação atecipada dos produtos.

    Bom artigo parabéns

  11. Rafael Schonberg diz:

    Era previsivel. Os 32 milhões que pedem é muito dinheiro.

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