O PearOS é uma distribuição Linux baseada no Ubuntu que tem o objetivo claro de trazer de forma livre uma interface semelhante à do MacOS. Este sistema operativo é consideravelmente rápido, tem um visual rico baseado no elementaryOS e traz vários pormenores diferenciativos, nomeadamente a inclusão de cores e ícones do iOS7 e do menu Global, que faz aumentar o espaço da tela.

Depois de ter testado durante algum tempo o PearOS, consegui tirar várias conclusões apresento neste artigo. De uma forma geral, o potencial deste sistema é enorme e acredito que se os desenvolvedores continuarem este caminho, vão alcançar algo muito recomendável. No entanto, apesar do potencial, o sistema não é perfeito. Por esse motivo, apresento esta análise crítica onde mostro os vários pormenores do PearOS8, os pontos a favor e os pontos fracos.

A conclusão desta análise crítica é provavelmente o que você deve dar maior atenção.

A distribuição PearOS tem um grupo de programadores pequeno, liderado por David Tavares, mas que trabalha de forma muito comunitária: ouvindo os utilizadores e aplicando as ideias discutidas. É interessante ver que durante o desenvolvimento do sistema, nada é considerado impossível e por esse motivo, se alguém quer alguma coisa e acha que vai haver gente que vai gostar, isso é aplicado. Exemplo disso foi a aplicação do Menu Global, num ambiente francamente parecido com o do ElemenataryOS. Recorde-se que esse é um dos maiores pedidos dos fãs do elementaryOS.

Apesar do objetivo do PearOS ser claramente copiar a interface do MacOS, na verdade o sistema não se limita a copiar. Tem vários pormenores que vê-se que simplesmente copiaram para se manterem na linhagem do MacOS, no entanto, tem alguns outros pormenores que dão um toque de unicidade, o que é bom para um sistema operativo que quer ganhar o seu espaço.

De uma forma geral, o sistema é muito rápido, é visualmente atrativo, tem várias funcionalidades pré-configuradas que aumentam drasticamente a produtividade e apresenta-se pronto para ser utilizado para os mais diversos fins.

O modo Live-CD e instalação

O PearOS durante o arranque do Live-CD e a própria utilização do mesmo mostrou-se normal. Isto não deve espantar ninguém visto que é baseado no Ubuntu, o que dá uma excelente base para funcionar muito bem neste modo onde se pode experimentar sem instalar nada. As várias funcionalidades que esta distribuição disponibiliza, nomeadamente as aplicações e o próprio ambiente gráfico, estão todas funcionais e qualquer utilizador pode experimentar sem ter de instalar de facto o sistema no computador.

Apesar de estar tudo “normal”, infelizmente o PearOS não tem a habitual apresentação de slides que o Ubuntu costuma disponibilizar enquanto esperamos pela conclusão da instalação do sistema. Seria muito interessante incluírem slides informativos, nomeadamente sobre a usabilidade (modo de arrancar aplicações e gerir programas abertos), sobre as aplicações adicionais ou até sobre que novidades esta versão tem. Há muitos pormenores que podiam desde logo deixar claros aos utilizadores que estão a instalar o sistema.

O arranque do PearOS 8

Após a instalação do PearOS, tudo se mostrou funcional. O arranque tem uma estética bonita, um pouco semelhante ao MacOS, mas mais colorido como o iOS 7. O tempo de arranque enquadra-se no tempo normal das distribuições baseadas em Ubuntu. É relativamente rápido. Visualmente o splash do arranque é bastante bonito, tal como se pode ver pela imagem abaixo à esquerda.

Quando o arranque termina, é apresentada interface de login, para se aceder ao sistema. O software utilizado para esta funcionalidade é o GDM, tal como o Ubuntu Gnome, e não o LightDM que vem por padrão no Ubuntu. Neste ponto, torna-se evidente que apenas integraram este software e não houve preocupação em personalizar à imagem do PearOS. Talvez um visual mais simples, elegante, fosse mais adequado. Talvez no PearOS 9 haja uma maior atenção neste pormenor que parece evidente que não deram qualquer relavância.

Após o login, o sistema é muito rápido a arrancar. De uma forma geral, desde o ato de ligar o computador até ter o sistema pronto a ser utilizado pareceu ter um bom desempenho. Nada a apontar de negativo a não ser o pormenor visual da interface de login.

O visual e ambiente de trabalho do PearOS 8

A interface do PearOS é talvez dos aspetos mais interessantes que muitos utilizadores darão valor. Tem um aspeto muito parecido com o ambiente do elementaryOS, no entanto, tem a vantagem de ter o menu global integrado no painel superior. Este aspeto é visto como positivo para alguns e negativo para outros. É uma questão de opinião pessoal. No entanto, o facto é que o uso do Menu Global torna a otimização de espaço melhorada, sendo ótimo para telas onde a resolução é pequena.

O visual segue alguns aspetos similares ao do ElementaryOS, mas não todos. Não existe um menu de acesso às aplicações no canto superior esquerdo, mas existe um outro alternativo (ver imagem abaixo à esquerda), que pode ser aberto diretamente da dock que está presente no fundo da tela. Esta dock, tal como qualquer outra, inclui ícones para as aplicações preferidas e para as aplicações abertas.

Um aspeto muito importante da interface é a inclusão do Synapse sob a forma de indicador (veja imagem acima à direita), que é um lançador rápido. Esta funcionalidade é extremamente parecida com o Spotlight do MacOS, algo extremamente útil pois permite procurarmos por qualquer coisa de forma rápida: jogos, programas, imagens, pesquisas na internet, documentos, entre muitas outras coisas.

Seguindo as ideias do Elementary, a gestão das áreas de trabalho é muito similar, onde ao mover o cursor para o canto inferior esquerdo, a área de trabalho move-se para cima e são apresentadas as várias áreas de trabalho com as diferentes aplicações nelas contidas (imagem abaixo à direita). Ao mover o cursor do mouse para o canto superior esquerdo, ocorre algo similar, mas neste caso são apresentadas as várias aplicações abertas (imagem abaixo à esquerda). Estas funcionalidades são muito parecidas com uma dica que apresentamos aqui no Ubuntued, mas para a interface padrão do Ubuntu, o Unity:

• Como mostrar as janelas abertas movendo apenas o cursor do mouse

Ao nível sonoro, o sistema não tem muitas ações definidas, mas os sons que tem são bem interessantes e agradáveis. Um deles é o notificador de novas atualizações.

Como pontos negativos, que existe alguns, começo pela parte do idioma. Infelizmente, apesar de se escolher o idioma português durante a instalação, este não é instalado. Não só ocorreu comigo, por isso creio que é um problema recorrente. Para além de não ter o idioma instalado, a primeira vez que mandei instalar os idiomas falhou. Só depois de reiniciar é que o sistema aceitou instalar o idioma. Quando a instalação concluiu, todo o sistema ficou traduzido.

Um outro ponto negativo está na combinação de teclas para ativar o synapse: SUPER+ALT+Espaço. Não era necessário ter uma combinação tão complexa, quando o usual é apenas uma tecla: a SUPER (tecla com o símbolo do Windows).

Visualmente, o sistema é atrativo. Sem dúvida. No entanto, seria importante que facilitassem a personalização. Existe uma aplicação para esse fim, no entanto parece demasiado simplificada para esse efeito, chamada de MyPear6. Por exemplo, fui incapaz de pôr o painel superior transparente, bem como alterar o tema visual.

Para mostrar o sistema a funcionar, resolvi criar um vídeo demonstrativo, onde mostro os vários pormenores e mostro também as combinações de teclas que tive de fazer para executar determinadas ações. Essas combinações de teclas estão apresentadas no canto inferior esquerdo do vídeo:

As aplicações do PearOS 8

O PearOS 8 traz várias aplicações conhecidas, várias aplicações que estão a ganhar o seu espaço no mundo Linux e algumas aplicações exclusivas da distribuição. Começando pelo browser e gestor de emails, estes são os mesmos que no Ubuntu: o Firefox e o Thunderbird. Para além desses, as aplicações básicas são também comuns, nomeadamente o Gedit, para edição de ficheiros, o Shotwell para gestão de fotografias, o monitor de sistema e mais um vasto grupo de aplicações comuns nos ambientes Gnome.

O reprodutor de música escolhido foi o Musique que tem ganho bastante destaque pela sua aparência simplista, mas refinada. A aplicação ainda está a ganhar espaço, no entanto, claramente tem um grande potencial e por esse motivo foi escolhida como o padrão do PearOS8.

A escolha do reprodutor de música é sempre algo muito subjetivo, é quase como a escolha de um Wallpaper. Não podemos agradar toda a gente, por isso é natural que muita gente tenha preferência de outra aplicação qualquer para gerir a biblioteca de música.

No entanto, a verdade é que esta aplicação segue a linhagem simplista do sistema e da riqueza visual. Infelizmente não é das melhores aplicações ao nível de leitura de grandes bibliotecas. Apesar de a aplicação ser muito leve, quando mandei ler a minha biblioteca de apenas 7GB de música, ela demorou mais de 2 minutos a criar a base de dados e demorou outros tantos minutos para fazer download das capas dos artistas, que não são muitas, pois na verdade tenho um grupo restrito de preferências. Neste ponto, é um aspeto negativo a ter em conta.

Um aspeto interessante é o facto de o PearOS usar o Nautilus, que no Ubuntu tem um comportamento lento e no PearOS é bastante rápido. Um outro aspeto interessante, mas negativo, é o facto de apesar do Empathy estar instalado, notei que ele teve vários problemas, nomeadamente a não abertura das configurações para adicionar contas para ter o chat funcional. Ou seja, não consegui ter o chat a funcionar no PearOS 8. Simplesmente não dá e por isso mais valia terem removido o Empathy.

Ao nível de aplicações exclusivas, o PearOS trouxe-nos algumas bem interessantes. A primeira é a já referida MyPear6 que engloba várias características de personalização do sistema, por exemplo funcionalidades com movimentos do ponteiro do mouse para os cantos da tela. Infelizmente ainda não implementaram a parte de personalização do tema e conjunto de ícones. Por esse motivo, para fazer esse tipo de alterações, é necessário utilizar o DConf que vem já instalado, mas que tem uma usabilidade um pouco complexa.

Inclui ainda uma aplicação para gestão de repositórios adicionais, algo que há muito que é pedido pelos utilizadores para o Ubuntu e até agora não há nada de oficial. No caso do PearOS, deram a atenção a esse aspeto e criaram a aplicação PearPPA Manager. Apesar de a ideia ser boa, a aplicação não arrancou à primeira. Só depois de atualizar o sistema é que ela começou a funcionar.

Uma interessante, mas provavelmente muito pouco relevante é a aplicação “Pear Contacts”, que permite guardar informações dos nossos contactos. Na verdade a aplicação tem um visual móvel, o que fica completamente em desacordo com o visual do sistema que se inclina para o desktop. Para além disso, a aplicação é altamente instável. Não consegui gravar nenhum contacto, infelizmente.

O PearOS inclui também uma aplicação própria que permite limpar os ficheiros temporários e de configuração. Isto é um aspeto bem interessante não só para ganharmos espaço livre, mas também quando queremos tirar todo o histórico de modificações de uma aplicação. A aplicação chama-se CleanMyPear.

Por fim, o PearOS ainda conta com uma aplicação que permite termos os nossos ficheiros armazenados na Cloud, para garantir que não os iremos perder caso o computador fique estragado. A aplicação chama-se PearCloud e dá a cada utilizador 2GB de espaço gratuito, podendo aumentar esse espaço na cloud ao comprar packs acrescidos.

O sistema de cloud disponibilizado pelo sistema é o conhecido OwnCloud, que já foi referido no Ubuntued e que qualquer utilizador pode ter, visto que é OpenSource. Qualquer utilizador pode ter, desde que disponibilize um computador/servidor para receber os ficheiros. Neste caso, o PearOS já disponibiliza tudo isso.

A ideia parece muito interessante é uma vantagem oferecerem 2GB de espaço.

A fragilidade do PearOS (os problemas)

Infelizmente o PearOS mostrou ter vários problemas de estabilidade. Foram várias as aplicações que simplesmente não arrancavam. Primeiro foi a falta de instalação de idiomas e depois a dificuldade em instalá-los. De seguida ao testar as aplicações exclusivas reparei que todas elas tinham problemas, nomeadamente o Pear PPA e o Pear Contacts.

A maior fragilidade é, certamente, o core do PearOS. Infelizmente o PearOS usa o Ubuntu 13.04 como o sistema base, o que significa que só irá receber atualizações até Janeiro do próximo ano, algo que é preocupante ao nível de segurança. Como todos sabemos, estes sistemas como o PearOS, Mint, Elementary e muitos outros, utilizam os repositórios do Ubuntu para receberem as atualizações dos programas. Quer isto dizer que são quase 100% dependentes do Ubuntu.

Uma vez que o Ubuntu 13.04 só irá ter suporte durante 9 meses, isso significa que em Janeiro de 2014 as atualizações para o PearOS 8 irão parar de aparecer, podendo o sistema ficar vulnerável devido às desatualizações.

Este é talvez o ponto mais negativo deste sistema que acabou de ser lançado e em 3 meses irá ficar vulnerável a desatualizações.

Conclusão Final

Apesar do conceito poder ser interpretado como uma cópia ao MacOS, não vejo o sistema como redundante ou como algo com falta de imaginação. Na verdade há inúmeras funcionalidades interessantes que aplicaram e tudo isso sobre um sistema Linux, que tem todas as vantagens do conceito de liberdade e código aberto.

A interface é talvez o aspeto mais importante do PearOS. Ela junta o melhor do ElementaryOS (dock, simplicidade, gestão de áreas de trabalho e janelas), com o melhor do Unity (menu global, acesso rápido a qualquer conteúdo via Synapse) e ainda traz algumas ideologias do MacOS. A ideia de escolher os aspetos melhores é algo que é sempre louvável.

Apesar de todas as excelentes ideias, o sistema claramente carece de muita atenção e rigor. Há aspetos que se vê claramente que simplesmente quiseram copiar do MacOS, mas logo de seguida vemos que eles deram prioridade a pormenores copiados insignificantes e vemos que aspetos como o scroll de dois dedos com o touchpad não foi implementado. E não esquecer do conceito de scroll invertido que o MacOS tem, similar ao touchpad dos sistemas móveis, que é cada vez mais usual para manterem a usabilidade concordante tanto em Desktop como em sistemas móveis.

A falta de personalização do login também é algo que mostra que houve pouco cuidado no sistema. A inclusão de alguns ícones similares ao iOS8 é uma ideia muito boa, pois são bonitos e é o que está na moda. No entanto, só incluíram alguns ícones, outros ficaram do Ubuntu, o que é mais um ponto negativo que mostra que as coisas parecem ter sido feitas “em cima do joelho”.

O maior aspeto negativo, que na minha opinião é o aspeto mais importante, é a falta de suporte que irá ocorrer dentro de 2 meses e pouco. Infelizmente o suporte ao Ubuntu 13.04 irá terminar e com ele também o PearOS 8 irá ficar sem suporte.

Por este último motivo, teremos de esperar que o PearOS9 (baseado no Ubuntu 13.10) apareça o quanto antes, ou então quem tiver instalado o PearOS8 terá de “fazer as malas” e escolher outro sistema operativo até Janeiro que vem.